Precisamos falar sobre estomia e os desafios com o padrão de cuidado no Brasil

Por: LUIZ TAVARES
Diretor Geral da Coloplast no Brasil

O atual cenário de saúde no Brasil e no mundo tem evidenciado a desigualdade presente em nosso sistema e os enormes desafios que temos pela frente para virar este jogo. Entre tantos problemas, contudo, é preciso olhar por aqueles que convivem com uma situação de saúde bastante íntima e pouco comentada: os estomizados.

Atualmente temos cerca de 120 mil pessoas com estomia no Brasil (considerando apenas estomas de eliminação), sendo cerca de 15 mil novos casos por ano. Destes, 75% vão receber os materiais pelo Sistema Único de Saúde e 25% por operadoras privadas. Somado a isso, temos um crescente diagnóstico de câncer colorretal — segundo tipo mais frequente em homens e mulheres e principal causa de confecção de estomias. O Instituto Nacional de Câncer prevê que para cada ano do triênio 2020/2022 sejam diagnosticados 40.990 novos casos.

Outro ponto importante: somos um dos países que oferece a menor média de bolsas externas de coleta aos pacientes. Via SUS, um estomizado consegue obter cerca de 10 bolsas externas de coleta por mês. Acontece que estas bolsas, diferentemente do que “se acredita”, são de uso único. E aí o cálculo é simples: se o mês tem, em média, 30 dias, isso significa que os usuários brasileiros precisam lavar suas bolsas, algo que é crítico para a saúde.

Em termos de acesso, desde 2013 temos uma conquista que é a regulamentação federal de assistência a pessoa com estomia através da Portaria 400, como resultado de um grande esforço a várias mãos. Porém, mesmo com a normativa, ainda estamos muito atrasados. Muitos pontos ainda precisam ser melhorados, como a definição do número mínimo de bolsas e inclusão de itens essenciais, como as bases adesivas convexas, por exemplo.

Por outro lado, a população precisa estar consciente do seu poder, informando-se sobre quais mudanças podem e devem ser feitas. Falta também engajamento político. Hoje, os programas de estomia podem até ser considerados onerosos para a administração pública, mas exemplos de outros países mostram que um padrão de cuidado mais elevado pode trazer economia para a saúde pública. E aqui estamos falando de evitar complicações que oneram mais o sistema para serem tratadas, como lesões de pele, além de outros impactos, como afastamento das atividades laborais e até mesmo depressão.

Fortalecer entidades que representam os estomizados também é uma alternativa. Existem associações e movimentos nacionais organizados que lutam pelos direitos das pessoas com estomia a nível federal.  Participar de suas atividades também é importante.

Estas barreiras só serão ultrapassadas quando obtivermos, de fato, a união entre o poder público e o privado, além do papel essencial das associações e entidades de classe que representam os estomizados em nosso país. O que temos hoje não pode ser encarado como algo normal. Precisamos, urgentemente, elevar o padrão de cuidado no Brasil e fazer entender que, se analisarmos os impactos dos custos para a Saúde versus a qualidade de vida dessas pessoas, esse cuidado irá valer muito a pena.