A saúde em seu conceito mais amplo

Por Glória Marcondes
Enfermeira estomaterapeuta e assessora técnica da Casex

A palavra “salutogênese” significa origem da saúde. É um termo cunhado por Aaron Antonovsky para designar a busca das razões que levam alguém a estar saudável. Este conceito foi oposto ao vigente na época (anos 60 do século XX) de patogênese, que significa “origem das doenças”. É, portanto, colocar o foco no que traz saúde e bem-estar. A partir de uma estrutura cognitivo-emocional-social, são os elementos internos que auxiliam a pessoa na superação das dificuldades que surgem na sua vida.

A palavra está relacionada à questão da espiritualidade como cultivo interno, à qualidade de vida e sanidade e à resiliência do indivíduo diante dos desafios. Resiliência humana é a capacidade de o indivíduo sobrepor-se e construir-se positivamente frente às adversidades.

Tornar-se uma pessoa ostomizada, por exemplo, não é uma escolha de vida, mas uma condição aceita e necessária para contornar um problema de saúde. A pessoa com estomia pode encarar essa nova condição com otimismo e promover uma reconstrução pessoal mais ampla, ou desanimar e sucumbir frente ao desafio, trancar-se em casa, evitar o contato com amigos e parentes, etc.

Reunir-se em associações traz muitos benefícios e está em afinidade com o conceito de salutogênese. As trocas de experiências e cuidados específicos são salutares. Encontrar meios de superar problemas em conjunto é mais fácil do que individualmente. Lazer e momentos de descontração são excelentes para a saúde. Aprender em grupo sobre as condições de saúde favoráveis é muito interessante, pois a dúvida de um serve para mais pessoas. Sem contar que apesar de os dispositivos para pessoas com ostomia serem garantidos pelo governo e pelos planos de saúde privados, quando há um grupo de interesse há mais força para garantir as conquistas e gerar novas.

Para a salutogênese, são decisivas as seguintes questões:

• Como aprendo a lidar com qualquer situação na vida, mantendo a minha flexibilidade interior e exterior?

• Como posso tornar-me tolerante a frustrações e ao estresse, e estável no meu caráter?

Difícil encontrar as respostas. Certamente não será uma receita de bolo, pois terá a individualidade agindo. Inclusive, estar no grupo da APO pode fazer com que se consiga enxergar outra saída para uma questão semelhante na qual alguém a resolveu de outra maneira, ampliando visões e caminhos para resoluções de conflitos futuros.

Alimentação saudável e ingestão de água adequada, quantidade e qualidade de sono, encontrar familiares e amigos, conversar, passear, ter uma vida plena… Tudo isso é salutar e faz parte da salutogênese.

Neste final e início de ano, com as festas, confraternizações e férias, podemos curtir muito, aproveitar os momentos felizes e ao mesmo tempo cuidar para não cometer exageros, para nos mantermos tranquilos e em paz.

Os funcionários e a diretoria da empresa Casex desejam a todos que 2023 venha com possibilidades de alegrias, prosperidade, paz e muitas situações salutares!

* Artigo publicado no jornal da Associação Paranaense dos Ostomizados

Conheça Katia Oliveira, a nova presidente da APO

Katia Oliveira, eleita presidente da APO em assembleia realizada em novembro de 2022

Eleita em assembleia realizada em novembro do ano passado, Katia Pascoal de Lima Oliveira, de 45 anos, é a nova presidente da APO e estará à frente da associação pelos próximos dois anos. Portadora da doença de Chron há 12 anos, Katia tornou-se ileostomizada em janeiro de 2018 e desde aquele ano passou a frequentar a associação. Esposa, mãe e avó, ela é formada em Bioquímica e trabalhou na área até aposentar-se por invalidez em decorrência dos problemas de saúde.

Em seu mandato, a nova presidente pretende focar em aumentar o volume de informações sobre ostomia em Curitiba e região metropolitana, trazer mais voluntários à entidade e dar seguimento ao trabalho da associação no atendimento diário aos ostomizados, na interlocução com o SUS e em demais ações para a melhoria da qualidade de vida dos pacientes atendidos.

Jornal APO: Como você se tornou ostomizada?

Katia Oliveira: Meu diagnóstico da síndrome de Chron demorou um ano pra ser efetivado, e para o tratamento foram mais dois anos. Então a doença começou a avançar muito rápido. Cheguei no estágio 4, que não tem mais como voltar. São raríssimos os casos de pessoas que chegam nesse estágio. No Brasil não tenho certeza se sou só eu ou se tem mais alguém. Até uns quatro anos atrás eu sabia que era só eu, hoje não tenho certeza. Chegou num ponto em que tive que tirar todo o meu intestino baixo, porque estava todo infeccionado. E foi aí que me tornei ileostomizada, há cinco anos.

Jornal APO: Como conheceu a APO?

Katia Oliveira: Antes de eu sair do hospital, recebi a visita do enfermeiro estomaterapeuta Thomas, que já atendeu na APO, para me ensinar a usar a bolsa. Se hoje ainda não existe tanta informação sobre a vida de um recém-ostomizado, naquela época havia ainda menos pessoas que falavam sobre isso até mesmo na internet. Não tinha ninguém para me ajudar a entender que minha vida poderia ser normal. Eu tinha medo da ostomia, pensava que não iria mais poder ir à praia ou usar alguns tipos de roupa.

Quando saí do hospital, o Thomas deixou o telefone dele caso surgisse alguma dúvida ou dificuldade e entramos em contato por diversas vezes. Em uma dessas conversas ele disse que existia a associação e me convidou para conhecer. Na época eu ainda não conseguia sair de casa, mas depois de um tempo consegui ir.

No começo da ostomia, foi muito difícil até mesmo sair de casa. Naquela época contei muito com meu marido, ele sempre foi muito parceiro e ficou muito do meu lado. Então conheci a associação e conheci a enfermeira Maria Carlos, que me atendeu por bastante tempo. Eu não sabia nem como tomar banho com a bolsa e ela me ensinou tudo, como fazer quando fosse para a praia, tudo.

Também tive problemas de aceitação da ostomia, então recorri à psicóloga da APO, e também à nutricionista. Lembro que quando eu chegava lá, os voluntários diziam para eu ir só para conversar mesmo que não fosse pra ser atendida, e essa acolhida ajudou bastante. Nessa fase a associação foi extremamente importante para mim.

Jornal APO: O que representa ser presidente de uma entidade como a APO, que foi importante para você num momento desafiador da sua vida?

Katia Oliveira: Eu já tive dificuldades em relação à retirada de bolsas na unidade de saúde, mas sou uma pessoa que vai atrás até resolver o problema. Fico imaginando quem não consegue resolver esses problemas e fica quieto. Tem que ter pessoas para ir atrás por elas. Aceitei a presidência justamente para isso, e também para ajudar a levar informação sobre a ostomia. Porque por mais que hoje tenha mais informações do que antes, ainda é pouco. Precisamos abranger o máximo de pessoas.

Jornal APO: Quais são seus principais objetivos no mandato à frente da associação?

Katia Oliveira: Pretendo tentar humanizar o máximo possível a situação dos ostomizados nos postos de saúde, tentar trazer mais voluntários, tentar fazer mais campanhas para aumentar o conhecimento sobre a ostomia, fazer mais eventos. Meu foco principal é aumentar a informação sobre ostomia.

Estão surgindo muitas coisas e pretendo fazer o máximo que puder. A Luiza [ex-presidente] fez muita coisa e eu quero caminhar com ela o máximo que puder para aprender e conseguir dar minha contribuição.

Movimento tenta criar dia do ostomizado em Portugal para combater preconceito contra ostomia

No Brasil, o Dia Nacional do Ostomizado, celebrado em 16 de novembro, é uma realidade desde 2007

Valéria Pinheiro, presidente da ANOXV e uma das líderes do movimento Ostober (Foto: Divulgação)

No dia 1º de outubro, o movimento chamado Ostober, criado em Portugal com o objetivo de dar voz às pessoas ostomizadas e eliminar preconceitos em relação à ostomia, lançou um abaixo-assinado on-line para pressionar as autoridades do país a criar oficialmente o Dia Nacional do Ostomizado.

O Ostober foi criado pela Convatec em parceria com a Associação Nacional de Ostomizados (ANOXV) de Portugal. Para Valéria Pinheiro, fundadora e presidente da associação, a criação da data oficial traria luz acerca da ostomia, que atinge cerca de 15 mil ostomizados portugueses. “O desconhecimento gera preconceito e exclusão, por isso criar o Dia Nacional da Pessoa com Ostomia vai trazer condições para eliminar definitivamente o desconhecimento da sociedade portuguesa sobre o que é a ostomia”, afirmou Valéria ao Jornal Médico. 

No Brasil, o Dia Nacional dos Ostomizados foi instituído pela Lei nº 11.506, de 2007 como forma de tentar acabar com o preconceito por meio da informação. Na época em que a lei foi sancionada, a Associação Brasileira dos Ostomizados (Abraso) estimava que havia aproximadamente 50 mil ostomizados no país. Segundo o último levantamento do Ministério da Saúde, em 2020, havia cerca de 400 mil ostomizados, com estimativa de 10 mil novos casos ao ano.

Para a ex-presidente da Associação Paranaense dos Ostomizados, Luiza Helena Ferreira Silveira, a alta de casos de ostomia não tem acompanhado o crescimento adequado na conscientização a respeito da prevenção, do tratamento e de como lidar com a nova condição de vida após a cirurgia de ostomia. Para ela, uma data oficial dedicada ao tema é essencial para combater a falta de informações.

“Minha percepção como alguém que participa de uma associação que recebe um grande número de pacientes recém-ostomizados é de que a falta de divulgação dessa questão de saúde é um grande problema. Fala-se na TV e na mídia em geral sobre autismo, diabetes, pressão alta, câncer de mama, mas raramente se fala sobre a ostomia”, diz Luiza.

 “Há diversas questões de saúde que podem levar a uma ostomia. Tudo o que pudermos fazer para falar da ostomia – definitiva ou provisória – é importante para que quando acontecer com alguém próximo as pessoas saibam como lidar e saibam também que existem associações de apoio”, enfatiza.

Para saber mais sobre o movimento ou assinar o abaixo-assinado pela internet, acesse www.ostober.org

Como viver com uma ostomia pode impactar na vida diária

Tradução e adaptação: SILVANA ZANETTE (Responsável técnica da Life Santé)

Estudo mapeia impactos da ostomia no dia a dia do paciente (Foto: Freepik)

Adaptar-se a uma vida com uma estomia intestinal ou urinária pode ser desafiador para muitas pessoas, bem como seus familiares e enfermeiros. Para tentar compreender esse dia a dia, um estudo conduzido por Angie Perrin (enfermeira estomaterapeuta e clinical lead e innovation da Salts Healthcare) e por um grupo de enfermeiros que trabalham na área de cuidados de estomias no Reino Unido, avaliou as dificuldades diárias das pessoas que vivem com uma estomia.

O estudo buscou entender as necessidades e desejos desses pacientes, a forma de adaptação aos novos desafios e a diferentes ambientes, e os impactos de uma estomia ao bem-estar físico, psicológico e social do indivíduo.

A metodologia utilizada foi a fenomenológica, ou seja, a busca da interpretação do mundo através da vivência do ostomizado, tendo como base suas experiências.

Para obter uma compreensão mais profunda da rotina diária dos participantes, o estudo foi dividido nas seguintes áreas:

Ficar longe de casa

Permanecer longe de casa pode gerar ansiedade pelo receio de ocorrer vazamentos, por estar em ambientes desconhecidos e distantes do conforto doméstico e pela preocupação em descartar a bolsa sem causar constrangimentos.

Viagens

Viajar parece causar ansiedade na maior parte das pessoas, pois independentemente do meio de transporte, o cuidado com o estoma e o esvaziamento ou troca da bolsa geram apreensão.

Cuidados com o estoma

Algumas pessoas relataram não terem dificuldade no cuidado diário com o estoma; já outros mencionaram que não havia problema em discutir ou demonstrar suas rotinas a outras pessoas. Porém ficou evidente que a maioria é exigente nesses cuidados e não gosta de alterar sua rotina devido à ocorrência de ansiedade.

Sono

Praticamente todos os participantes relataram que o sono era “interrompido” cotidianamente, pois havia a preocupação com a necessidade de esvaziamento e aumento dos gases e receio de que houvesse vazamento ou descolamento da bolsa. A percepção é de que as pessoas ostomizadas tinham dificuldade para obter uma boa noite de sono.

Roupas

Muitos sentem a necessidade de mudar seu estilo ou optam por usar roupas mais confortáveis por cima da bolsa. A limitação na escolha do vestuário pode levar a um sentimento de frustração e irritação.

Esvaziamento da bolsa

A necessidade de esvaziar a bolsa com frequência e a falta de estrutura e higiene nos banheiros públicos são problemas que foram mais evidentes em pessoas com urostomia ou ileostomia.

Conclusão

Este estudo permitiu conhecer informações que fornecem uma percepção empática e uma compreensão de como pode ser a rotina de um ostomizado e como isso pode afetar a sua vida. Esse conhecimento pode influenciar a prática clínica e orientar na assistência, o que resultará em melhoria na qualidade do cuidado de pessoas que vivem com uma estomia.