A importância de manter a pele ao redor da ostomia saudável

Por: Silvia Moreira
Enfermeira estomaterapeuta da Convatec Brasil

Caso a pele ao redor da estomia (pele periestomia) fique irritada e lesionada, além do risco de infecção, isso pode prejudicar a aderência da barreira de pele do equipamento coletor. A prevenção é a melhor forma de manter a pele periestomia saudável.

Antes de aplicar a barreira de pele, é importante verificar se a pele periestomia está saudável e seca. Isso permitirá que o dispositivo fique aderido à pele durante toda a sua utilização.

Observe o aspecto da pele ao redor do estoma quando esta se encontra em perfeitas condições. A pele periestomia deve ter a mesma aparência da pele do lado oposto do abdome, ou seja, deve estar íntegra. Assim que souber reconhecer o aspecto da pele saudável, será mais fácil reconhecer qualquer tipo de alteração.

O ajuste adequado da barreira de pele ao redor do estoma é essencial para prevenir complicações na pele periestomia. No equipamento coletor de uma peça, uma barreira de pele aderente e flexível protegerá a pele e permitirá sua remoção sem trauma.

O equipamento coletor de duas peças apresenta vários tipos de barreiras de pele, entre eles a placa com a Tecnologia Moldável. A Tecnologia Moldável foi desenvolvida para abraçar a estomia, como uma gola alta envolve o pescoço, eliminando os espaços entre o estoma e a pele periestomia. Ela fornece um ajuste seguro e confortável que minimiza as complicações da pele ao redor do estoma.

Prevenção

Prevenir os problemas de pele é bem mais fácil do que tratá-los. É muito importante saber fazer a higiene da sua estomia; para isso, tenha em consideração os seguintes pontos:

  • Lave suavemente a pele periestomia e a estomia com a ajuda de uma esponja suave, com água morna e sabão com pH neutro.
  • Seque bem a estomia e a pele periestomia, sem friccionar, mantendo a pele que está debaixo da bolsa limpa e seca.
  • Não use substâncias irritantes para a pele em volta da estomia, como perfumes, álcool, éter, antissépticos ou sabonetes agressivos.
  • Se os pelos ao redor da estomia são abundantes, corte-os com uma tesoura (não use gilete ou creme depilatório).
  • Não utilize qualquer tipo de creme gorduroso, pois pode impedir a boa aderência dos equipamentos.
  • Use um equipamento coletor que lhe proporcione a segurança de ter uma pele bem cuidada.

A importância dos adjuvantes

Os acessórios de ostomia têm muitas vantagens e podem ser utilizados em conjunto com os dispositivos de ostomia, com a finalidade de proteger a pele periestomal. Assim, os acessórios favorecem o cuidado da pele e melhoram a adaptabilidade do dispositivo ao estoma.

* Artigo publicado no jornal da Associação Paranaense dos Ostomizados

O cuidado na vida das pessoas ostomizadas: do paciente ao cuidador

João Carlos Carvalho Queiroz

Por: João Carlos Carvalho Queiroz
Doutor em Ciências da Saúde

A palavra cuidado é oriunda do latim cogitare – reflexão, pensamento; mas significa também atenção, cautela, precaução. Deriva do latim cura, usada num contexto de relações de amor e amizade.

O cuidado na vida das pessoas ostomizadas possui destacada importância, principalmente porque é ele que proporcionará a harmonia abrangente: na alimentação e hidratação, na higiene e no repouso, na escolha pela atividade física, nos pensamentos e no equilíbrio emocional para acolher possíveis intercorrências em diversos níveis.

O cuidado pode ser melhor compreendido se analisado em algumas dimensões na vida das pessoas ostomizadas:

O cuidado enquanto sentimento

Com o passar dos tempos, verifica-se diversas transformações na estrutura corpórea: seja na forma, nos padrões, na busca por soluções. O ser humano é um ser que se transforma e que se adapta a todo momento. “Nosso cotidiano vive sempre em busca de sentido. Mas, o sentido não é originário, não provém da exterioridade de nossos seres. Emerge [do experimentar], da participação, da fraternização, do Amor (MORIN, 1999).

A vida das pessoas ostomizadas passa por profundas transformações e adaptações com a “chegada” da bolsinha – um acessório de vida em casos, por exemplo, de ileostomia, colostomia e urostomia – desenvolvendo na pessoa sentimentos muito elevados no ato de cuidar-se.

O cuidado enquanto atitude

Cuidar, é mais que um ato. É atitude. Abrange mais do que um momento de atenção, zelo, desvelo – representa uma atitude de ocupação, preocupação e responsabilização com o outro (BOFF, 2004).

Não é um cuidar apenas afetivo, na/da outra pessoa; mas sim cuidar de um ser humano que, por ser vivo ou por pertencer a nossa existência, já é digno de ser cuidado.

O cuidado enquanto necessidade humana

Sem o cuidado, o ser humano deixa de ser humano, “desestrutura-se, perde sentido e morre” (BOFF, 2004).

Através do cuidado com outros seres humanos, a dignidade humana finalmente é [testada], protegida, estimulada e preservada (PERRY, 2004).

O cuidado enquanto relação estabelecida entre o cuidador e o ser cuidado

A relação de ajuda, para os cuidadores e os seres cuidados, se expressa no envolvimento. O Cuidador se torna uma referência para o ser cuidado; alguém que ele pode confiar e buscar quando necessário (WALDOW, 1998).

O cuidar prevê o respeito a privacidade, a garantia da independência e o estímulo a autonomia; pois, o excesso de cuidado tira a espontaneidade das pessoas e origina a vaidade, o narcisismo e a afetação (BOFF, 1999).

À medida que a parceria se processa, [a cumplicidade aumenta e] cada parceiro passa a entender melhor as necessidades do outro. Numa parceria verdadeira e confiante, ambos aprendem, mudam e evoluem (CAPRA, 1996).

O cuidado enquanto princípio ético

A ética é fundamentada por valores e princípios que norteiam o comportamento humano, mantendo uma conduta aceitável e em consonância com a vida; visando o bem individual e coletivo.

A ética deve ser uma edificação de responsabilidade para com a vida e para que tudo dela emane. A ética deve ser mobilizada pela paixão e pelo amor: o amor inteligente, previsível, comprometido com as consequências dos seus atos.

O cuidado e a formação profissional

O grande desafio para o ser humano é combinar trabalho com cuidado. Eles não se opõem, mas se compõem (BOFF, 1999). Eles se ajustam e se completam.

“O Cuidado deve ser construído em um processo de interação interpessoal, pressupondo coparticipação de experiências e crescimento do esforço comum em conhecer a realidade que se busca mudar, não permitindo uma relação de dominação e manipulação do que cuida sobre o que é cuidado” (FREIRE, 2016).

Enfim, o cuidado está presente na educação e na cultura das pessoas; manifestando-se na fé, no respeito, na paciência, na compaixão, na coragem, na perseverança e na gratidão.

A sexualidade na vida da pessoa com ostomia

Por: Marthyna Mello
Enfermeira estomaterapeuta COLOPLAST

Desta vez, vamos aprofundar em um dos fatores que impacta diretamente na sua qualidade de vida: a sexualidade. Vale dizer que a sexualidade permeia todas as etapas do viver humano e é parte integral da nossa personalidade. Trata-se de uma necessidade básica, e é um aspecto que não pode ser separado de outros aspectos da vida. Diz respeito à dimensão íntima e relacional que compõe a subjetividade das pessoas e suas relações com seus pares e com o mundo. Refere-se à emoção que o sexo pode produzir, transcendendo definições físicas restritas ao ato sexual.

Após a confecção do seu estoma, houve uma alteração direta na sua imagem corporal e, consequentemente, uma readaptação do seu estilo de vida, incluindo o fator sexualidade. Nós, da Coloplast, queremos ajudar você a minimizar impactos nessa área com algumas orientações e dicas.

“Sendo estomizado, posso ter relações sexuais?”
Sim, e deve sempre buscar diálogo com o(a) parceiro(a) expondo suas angústias e seus medos para que possam juntos descobrir uma melhor forma de adaptação à nova realidade.

“Meu equipamento pode soltar durante a relação?”
Sim, mas existem adjuvantes que podem auxiliar na sensação de segurança em relação ao seu equipamento, como fitas elásticas e cintos.

“E se meu estoma funcionar durante o ato sexual?”
Lembre-se de que o funcionamento do estoma está diretamente ligado à sua alimentação.

“E se ocorrerem vazamentos?”
A escolha correta do equipamento é fundamental: existem bases adesivas convexas e também adjuvantes que podem minimizar o risco de vazamentos.

“O meu parceiro vai sentir o cheiro da minha bolsa?”
Há adjuvantes que podem auxiliar quanto a isso, para serem utilizados na bolsa coletora. Os equipamentos coletores mais avançados possuem filtro de odor acoplados na bolsa, de forma a evitar a exposição de odores.

“Como fazer para que meu parceiro não veja meu estoma?
Para mulheres, usar lingeries, lenços que cubram o equipamento; para os homens, camisetas. O importante é sentir-se atraente.

“Tenho vergonha de expor minhas dúvidas sobre sexualidade”
Busque os grupos de apoio a estomizados e associações, como a APO. A troca de experiências e relatos o motivará a seguir em frente.

Nós, da Coloplast, nos preocupamos com você e sabemos como a discrição, o conforto, a vida social e a confiança com o uso do equipamento ideal impactam na sua rotina. Conte conosco para tornar sua vida mais fácil e não se esqueça de que a sexualidade de cada um é única. O mais importante é que você esteja bem e feliz consigo mesmo!

Entrevista: Alessandro Nuñez, o primeiro triatleta ostomizado do Brasil

Casado e pai de uma adolescente de 15 anos, Alessandro Nuñez manteve vida de esportes ativa após tornar-se colostomizado (Brasil Ride 2017)

Colostomizado desde novembro de 2010, Alessandro Nuñez, de 50 anos, ficou conhecido como o primeiro triatleta ostomizado do Brasil ao se manter treinando e participando de competições de triathlon – modalidade que combina natação, corrida e ciclismo – após a cirurgia.

Um ano depois de tornar-se colostomizado, Alessandro disputou uma prova nacional de triathlon. Nos anos seguintes, seguiu treinando e disputando várias competições bastante exigentes, o que incluiu o campeonato mundial de triathlon XTerra no Havaí, em 2013, e três provas de ultramaratona de bicicleta, em 2012, 2014 e 2017.

A receita: priorizar a saúde mental e emocional, manter boa alimentação e buscar por adaptações que permitam manter a mesma qualidade de vida de antes da cirurgia.

Confira a entrevista exclusiva de Alessandro Nuñez ao Jornal APO:

Após a sua cirurgia, você manteve um estilo de vida bastante ativo, priorizando a saúde física e mental. Passada mais de uma década da cirurgia, como está sua vida hoje?

Alessandro: Estou seguindo, relativamente muito saudável. O tempo voou, em agosto vai fazer 13 anos que descobri o câncer colorretal. Em novembro de 2010, um ano depois do Dia Nacional do Ostomizado, fiz a cirurgia. Essa data eu nunca esqueço, porque é a data que comemoro como um aniversário.

Continuo casado, trabalhando com vendas no meio corporativo. Minha filha era pequena na época da cirurgia, hoje é uma adolescente de 15 anos. Também sigo fazendo alguns treinos, mas não tão intensos como antes. No meio da pandemia parei com os treinos de natação e acabei não voltando ao triathlon, mas pretendo retornar. O esporte realmente me movimenta para a vida. Uso como forma de qualidade de vida, como antiestresse, para várias coisas.

Ultramaratona disputada em 2012 na Chapada Diamantina

Olhando para trás, qual foi a importância de lidar bem com a saúde mental emocional nos meses e anos pós-cirurgia?

Alessandro: Considero que a grande questão foi a mental, não a física. Eu era praticante de esportes, então em algumas coisas isso realmente ajudou, como na condição física para suportar os tratamentos que fiz. Mas a parte emocional e mental foram muito mais importantes do que a parte física para lidar com a nova condição.

Na época, como faz muito tempo, não tinha muitas referências de quem buscar quanto à vida como ostomizado, principalmente em relação à prática de esportes. Então eu me espelhava em pessoas que tinham outras deficiências e que deram a volta por cima muito bem. Uma delas foi o Fernando Fernandes [atleta paralímpico]. Ele, no momento dele, conseguiu dar a volta por cima e hoje dá exemplo. Ele é uma pessoa que até hoje acompanho, vejo o que ele consegue praticar com a limitação que tem. Então coloquei na minha cabeça: eu tenho uma limitação, mas consigo lidar bem, fazer as coisas, ir adaptando.

Me espelhar em outras pessoas ajudou bastante. Depois da primeira reportagem no Jornal APO, há 12 anos atrás, muita coisa se abriu, porque meio que sem querer virei uma referência para outras pessoas ostomizadas que vinham atrás, e até hoje tem pessoas que me procuram. Então ter pessoas para me espelhar foi fundamental, e depois me tornar uma referência e poder de alguma forma contribuir ajudou ainda mais a melhorar o meu mental.

Você falou que reduziu um pouco os treinos e competições. Como está sua vida de atleta atualmente?

Alessandro: Eu sou uma pessoa que precisa sempre estar fazendo algum tipo de esporte independentemente de estar competindo ou não. Atualmente meu esporte maior é andar no mínimo três quilômetros com meu cachorro border collie, que também é esportista e requer que eu caminhe bastante com ele. Também tenho feito bastante treinos de musculação e de pedal.  

A questão da pandemia mudou muita coisa, né? Minha última prova foi antes da pandemia, em 2019, no Uruguai. Fiz uma prova de bicicleta de três dias lá. Mas estando ou não competindo, se der eu vou até 100 anos fazendo esporte dentro das minhas capacidades.

Passados vários anos da cirurgia, de que forma a ostomia impacta atualmente no seu dia a dia?

Alessandro: A questão da alimentação é chave: se alimentar com comidas saudáveis e tomar água adequadamente são coisas que realmente ajudam no dia a dia e no trato da ostomia. No meu caso, eu faço a irrigação [técnica de lavagem intestinal para colostomizados] há 12 anos, então isso dá um pouco mais de qualidade de vida. Normalmente eu estou com a bolsa vazia, nunca está cheia. Mas isso também está muito relacionado ao que se come.

Com o tempo você aprende a conhecer seu organismo. Sendo ostomizado ou não, a boa alimentação junto com a prática de esportes reflete numa série de benefícios que vão além da diminuição do estresse.

Ao longo desses anos tive alguns problemas relacionados à condição de ostomizado, mas sempre consegui dar a volta por cima. Nunca deixei isso me vencer, sempre tive em mente que não vai ser isso que vai me impedir de fazer alguma coisa. É tudo uma questão de adaptação.