Isenção tributária para pessoas com doenças graves: alguns ostomizados também têm esse direito

A legislação brasileira prevê isenção de Imposto de Renda para pessoas com doenças graves, o que ostomizados com tumores malignos. Estabelecido pela Lei nº 7.713/1988, no artigo 6º inciso XIV, esse benefício assegura que os proventos de aposentadoria de pessoas indivíduos que possuem certas doenças não sejam tributados, aliviando o impacto financeiro para aqueles que enfrentam situações mais complexas de saúde.

Quais doenças dão direito à isenção?

A lei contempla um total de 16 doenças específicas. Veja a lista:

  • Câncer (tumor maligno)
  • Tuberculose ativa
  • Alienação mental
  • Esclerose múltipla
  • Cegueira
  • Hanseníase
  • Paralisia irreversível e incapacitante
  • Cardiopatia grave
  • Doença de Parkinson
  • Espondiloartrose anquilosante
  • Nefropatia grave
  • Hepatopatia grave
  • Estados avançados da doença de Paget (osteíte deformante)
  • Contaminação por radiação
  • Síndrome da imunodeficiência adquirida
  • Portadores de moléstia profissional

Quem pode se beneficiar da isenção?

A isenção tributária é destinada aos portadores das doenças listadas na lei que estejam inativos – ou seja, aposentados por idade ou invalidez, ou pensionistas. Trabalhadores que ainda estão na ativa, mesmo com uma doença grave, não se encaixam nos critérios para isenção.

Validade do benefício

Ostomizados com tumores malignos que estejam inativos (aposentados por idade ou invalidez) têm direito ao benefício (Freepik)

Para quem já se encontra inativo, a isenção tributária é válida por toda a vida, mesmo que a condição de saúde que deu origem ao benefício apresente melhora. Isso significa que, por exemplo, um aposentado com câncer poderá manter a isenção mesmo que entre em remissão da doença.

Quem está em remissão pode solicitar?

Sim, pacientes que já estão em remissão também podem solicitar a isenção, desde que apresentem documentação médica que comprove o diagnóstico da doença.

Como solicitar a isenção ou restituição de valores?

A isenção não ocorre automaticamente. Para ter acesso é preciso entrar com um pedido formal no sistema virtual do INSS, onde o laudo pericial será usado como referência da data de início da doença. Após o laudo ser aceito, basta declarar os rendimentos na ficha “Isentos” na próxima declaração do Imposto de Renda.

Restituição de valores pagos anteriormente

Também é possível reaver os valores pagos em anos anteriores a título de restituição. Para isso é preciso retificar as Declarações de Imposto de Renda desde o ano do diagnóstico, retirando os rendimentos da lista de “Tributáveis” e adicionando-os na lista de “Isentos”. Com as declarações corrigidas, é possível acessar o e-CAC e solicitar a restituição. Após análise, os valores devidos são depositados automaticamente na conta bancária do solicitante. Vale lembrar que, em caso de intimação da Receita Federal, é essencial ter em mãos os laudos e exames comprobatórios.

Para mais informações, é recomendável buscar orientação com um contador ou um advogado especialista em direito tributário.

O segredo da saúde intestinal para pessoas com ostomia

Consumir diariamente frutas e verduras de diferentes cores e consistências é determinante para
a saúde intestinal do ostomizados (Freepik)

A saúde intestinal é um aspecto muito relevante para o paciente ostomizado, afinal manter uma microbiota saudável é fundamental para prevenir diarreia, constipação e outros sintomas relacionados. A microbiota diz respeito às bactérias que vivem em nosso intestino. Algumas delas têm um potencial benéfico para o organismo, enquanto outras podem trazer consequências ruins.

Nosso intestino contém alta concentração de bactérias – cerca de 100 trilhões. Essa variedade é fundamental para a saúde; dentre suas funções estão o fortalecimento da imunidade, a renovação de células, o combate a bactérias patogênicas (que provocam doenças) e a absorção de nutrientes. E a dieta adequada é um dos fatores que contribui com a saúde intestinal, junto com outros hábitos positivos: não fumar, controlar o estresse, praticar atividade física e não usar drogas.

Sobre a alimentação, há práticas simples que podem ajudar muito a melhorar a saúde intestinal e que foram listadas no estudo “Nutrição, estresse oxidativo e disbiose intestinal: influência da dieta na microbiota intestinal nas doenças inflamatórias intestinais”, de Giovanni Tomasello e colaboradores, realizado em 2016.

Veja algumas das recomendações:

•  Beba de 1,5 a 2 litros de água por dia: essa é uma quantidade suficiente para prevenir constipação e reidratar o organismo após período de diarreia.

• Consuma pelo menos dois tipos de vegetais por dia e de uma a duas porções de frutas diariamente, variando as cores e consistências dos vegetais.

• Duas a três porções de laticínios (leite, iogurte, queijos brancos) por dia – estes contribuem com a fermentação de bactérias em nosso intestino. Mas calma! Talvez após a ostomia você tenha desconforto ao tomar leite. Não tem problema, basta garantir uma adequada fonte de cálcio (vegetais verdes escuros, gergelim, leguminosas ou couve-flor) e continuar consumindo alimentos saudáveis para a saúde do seu intestino.

•  Limite o consumo de alimentos ultraprocessados ou ricos em açúcar e/ou gordura (bolacha recheada, sorvetes, chocolates e embutidos (como mortadela, presunto e salsicha), refrigerante e suco industrializado. O ideal é que se consuma no máximo duas porções desses alimentos por semana.

É sempre importante lembrar que uma alimentação saudável consiste em um padrão – ou seja, é o que fazemos dia após dia, abrindo pequenas exceções nos finais de semana ou em datas comemorativas.

O ostomizado pode ter algumas reações diferentes com os mesmos alimentos que comia antes da cirurgia. Por isso é importante fazer um diário, anotando os alimentos reintroduzidos após a ostomia e listando eventuais sintomas, para que você possa conversar sobre isso com o profissional de saúde que o acompanha.

Texto escrito por Aline Fernanda (nutricionista e vice-presidente da APO), adaptado do estudo Nutrition, oxidative stress and intestinal dysbiosis: Influence of diet on gut microbiota in inflammatory bowel diseases – 2016).

Como a ostomia afeta a sexualidade masculina?

Estudo científico apontou as principais dificuldades enfrentadas por homens com ostomia (Freepik)

Um estudo de 2020 investigou o impacto da ostomia na sexualidade masculina por meio de uma revisão integrativa, analisando e resumindo 8.266 publicações. Foram selecionados 21 estudos relevantes para exploração mais aprofundada.

A Organização Mundial da Saúde reconhece a sexualidade como um pilar da qualidade de vida. Esta, entretanto, é uma das áreas do bem-estar individual que podem ser afetadas pela ostomia. Segundo Meira et al., 2020, a ostomia pode causar repercussões negativas na sexualidade masculina, como luto pelo membro “invisível” amputado, perda de autoconfiança e controle das eliminações intestinais, além de disfunções sexuais devido a lesões dos nervos perineais durante a cirurgia.

“(…) o procedimento cirúrgico de construção da estomia pode ter influência sobre o funcionamento sexual de homens, já que ressecções intestinais e lesões dos nervos perineais podem advir, desencadeando vários problemas fisiológicos, tais como disfunção erétil, dos distúrbios ejaculatórios e da infertilidade”, dizem os cientistas.

Um dos primeiros pontos relevantes trazidos pelos autores consiste na explicação sobre a fase sexual completa, que passa pela excitação inicial, ereção, ejaculação, até o relaxamento, incluindo em si o prazer e a satisfação. A disfunção sexual acontece quando alguma das etapas citadas acima não ocorre.

Outros pontos associados à disfunção erétil em homens e que não está somente relacionada à ostomia se relacionam com condições metabólicas que afetam a circulação sanguínea, como obesidade, diabetes mellitus, pressão alta, sedentarismo (ausência da prática de atividade física) e problemas no trato urinário.

Já os impactos fisiológicos, isto é, aqueles relacionados aos cortes realizados na cirurgia, podem trazer prejuízos para a ereção, ejaculação e fertilidade.

Fatores psicológicos também foram encontrados nos estudos, afinal, a atividade sexual necessita de estímulos sensoriais diversos, como a visão e a audição. Aqui, incluo também a necessidade de um bom relacionamento com a parceira – relacionamento este que pode ser impactado devido às preocupações relacionadas à ostomia, bem como o fato de a esposa assumir um papel de cuidador, por vezes deixando a relação de casal em segundo plano.

Em relação a esses desafios, cabe aos profissionais de saúde incentivarem a adoção de estilo de vida saudável, o qual envolve alimentação saudável, prática de atividade física, hidratação adequada, cessação de álcool e tabagismo, manejo de ansiedade e estresse. Para isso, a Associação Paranaense dos Ostomizados oferece gratuitamente atendimento com profissionais de nutrição, enfermagem e psicologia para contribuir com o bem estar dos ostomizados.

Vale ressaltar que o estudo analisado menciona o exercício físico, com destaque aos aeróbicos de moderada a elevada intensidade, como estratégia para a melhoria da disfunção sexual.

Um outro aspecto está na informação passada pelos profissionais de saúde. “Estudo transversal realizado com 3 mil pessoas estomizadas da América do Norte e Reino Unido revelou que os pacientes relataram (…) que tinham a percepção de terem recebido informações inadequadas quanto à dificuldade apresentada, fato que também foi associado à presença de problemas emocionais, conjugais e sociais.” Isso demonstra a importância do acompanhamento pela equipe de enfermagem e individualização das orientações, sempre que possível.

Em conclusão, percebe-se a importância do autoconhecimento e autocuidado – campo por vezes negligenciado pelo homem quando se trata de saúde. Os homens procuram menos os médicos quando comparado com as mulheres. A partir de uma observação profunda e sincera sobre si mesmo, é possível identificar o que pode estar ocasionando a dificuldade sexual e, assim, criar ações, juntamente com os profissionais de saúde de sua confiança para melhoria.

Texto escrito por Aline Fernanda (vice-presidente da APO), adaptado de estudo realizado pela equipe de Isabella Felix de Araújo Meira, intitulado “Repercussões da estomia intestinal na sexualidade de homens: revisão integrativa”, publicado na Revista Brasileira de Enfermagem

Mulheres jovens ostomizadas: quais as barreiras a serem superadas?

Estudo científico listou as dificuldades enfrentadas por mulheres com ostomia

Um estudo de 2023 explorou a experiência com as ostomias de seis mulheres de 20 a 35 anos. A pesquisa listou quais foram as dificuldades enfrentadas por essas mulheres e de que forma elas acreditavam que essas barreiras poderiam ser superadas. Uma das dificuldades mencionadas foi a impossibilidade de se preparar para a ostomia.

Uma das participantes traz seu relato: “Eu gostaria que tivessem me explicado o que é um estoma, que tivessem desenhado ou pelo menos que eu pudesse ter visto como era uma bolsa, sentir na pele como é usar. Eu entendo que pode ser difícil planejar em casos de ostomia de emergência, mas a preparação teria sido muito importante!”

Outra participante trouxe uma experiência mais animadora: “No meu caso, tive várias conversas com a enfermeira estomaterapeuta antes da cirurgia, então pude me preparar. Isso me permitiu treinar o uso após a operação e não precisar me concentrar em primeiro saber como um estoma funciona. Acho que isso foi muito positivo”.

Após o procedimento, o envolvimento na escolha do equipamento coletor e a abertura do paciente para lidar com o estoma foram pontos que trouxeram melhora na adaptação e aceitação. Possivelmente isso acontece porque a partir do momento em que conhecemos nosso corpo e seu funcionamento, mesmo com as mudanças após a cirurgia podemos ir em busca de mais qualidade de vida – adaptar alimentação, rotina, práticas de higiene, cuidados com a bolsa, horários de atividades, entre outras ações.

O estudo mostra que a perda de controle do efluente, possíveis odores e barulhos não esperados podem mexer com a autoestima da mulher ostomizada, mas estar aberta para lidar com essas situações faz toda diferença. Autoestima é como nos sentimos sobre nós mesmos. É como se tivéssemos um amigo dentro da cabeça que nos diz coisas boas ou ruins sobre quem somos. Quando temos alta autoestima, esse amigo nos diz coisas boas, como “você é legal”, “você é inteligente” ou “você é capaz”. Isso nos faz sentir confiantes e felizes.

Outro ponto relevante trazido pelas mulheres do estudo foi a comunicação. As participantes foram estimuladas a falar sobre seus sentimentos negativos relacionados às ostomias e a buscarem aconselhamento sempre que necessário e, com isso, sentiram que sua confiança aumentou. Apesar de enfrentarem olhares e comentários curiosos, algumas participantes acharam a curiosidade educada positiva, porque isso fez com que mesmo os não ostomizados falassem mais sobre o assunto e divulgassem tais informações, para reduzir o preconceito e aumentar a inclusão.

É importante entender que a inclusão não se trata só de aceitar a presença física de pessoas com diferentes origens e características, mas também de garantir que elas sejam valorizadas, respeitadas e tenham acesso a todos os aspectos da vida em sociedade, como educação, emprego e saúde.

Cada pessoa é única e possui suas próprias experiências, por isso é importante que todos criem ambientes agradáveis, onde se sintam bem e possam contribuir com suas habilidades individuais. Por exemplo, se alguém tem uma deficiência, a inclusão significa garantir que ela tenha acesso a lugares e atividades da mesma forma que todos os outros. Pode significar fazer rampas para cadeiras de rodas em vez de escadas, ou disponibilizar materiais de leitura em formatos acessíveis para pessoas com dificuldades de visão. Além de espaços para que ostomizados possam higienizar seu estoma ou trocar a bolsa de maneira segura e confortável – algo que ainda tem muito a avançar em nossa sociedade!

Em resumo, as barreiras enfrentadas foram principalmente relacionadas à comunicação e informação – pontos que podemos desenvolver sempre em nosso meio para que os ostomizados sintam-se ouvidos e acolhidos e para que a sociedade em geral possa saber cada vez mais sobre as ostomias e, desta forma, combater o preconceito e aumentar a inclusão.

Texto escrito por Aline Fernanda (vice-presidente da APO), adaptado de estudo realizado pela equipe de Andrea Emilie Mørkhagen and Line Nortvedt, intitulado A Qualitative Study on How Younger Women Experience Living with an Ostomy, publicado na revista . Int. J. Environ. Res. Public Health 2023.