Dúvidas frequentes sobre alimentação para pessoas com ostomia

Woman chef cooking vegetables in pan

Confira abaixo respostas às dúvidas mais recorrentes feitas por pacientes ostomizados à nutricionista Caroline Carvalho dos Santos em seus atendimentos na sede da APO. Caso tenha dúvidas, procure a nutricionista, que atende todas as quintas-feiras (entre 14h e 17h) na sede da associação. O atendimento é gratuito.

Como deve ser a alimentação após a cirurgia?

Após a fase de recuperação da cirurgia, o paciente pode voltar a ter uma alimentação normal o mais saudável possível. Deve-se introduzir alimentos ricos em fibras de forma lenta e gradual e observar os efeitos que os alimentos têm sob seu corpo, percebendo excesso de gases, odores e irritações para adequar a quantidade e o tipo de alimentos.

Qual é a quantidade de líquidos que devo ingerir?

A água deve ser o líquido mais ingerido (cerca de 8 a 10 copos por dia), o que gera em torno de dois litros diários. Além da água, é possível consumir sucos naturais, chás, caldos, água de coco.

Como fica a absorção de nutrientes após a cirurgia de ostomia?

Na ileostomia, a abertura é realizada no final do intestino delgado, que é a parte do corpo responsável por terminar a digestão e absorver a maior parte dos nutrientes. Já o intestino grosso (colostomia) é responsável pela reabsorção de água e minerais, por isso as fezes, nesse caso, são mais consistentes. Independentemente da localização do estoma, os alimentos devem ser muito bem mastigados, pois quanto menores forem os pedaços, melhor será a digestão e a absorção (caso não haja nenhuma doença absortiva). Regularmente deve ser feito acompanhamento médico e nutricional para exames complementares a fim de verificar se há deficiência de vitaminas e minerais e realizar os ajustes necessários.

Quais são os alimentos que mais causam gases?

Alguns alimentos tendem a causar gases devido a sua composição, porém esse sintoma varia de pessoa para pessoa. Alguns exemplos: ovos, alho, cebola, repolho, leguminosas (feijão, lentilha, ervilha e soja), frutos do mar, couve-flor, carnes, pepino, brócolis, melão, rabanete, abacate, uva, laranja, embutidos e outros. Lembre-se de que não há a necessidade de excluí-los completamente da alimentação. Consuma-os e observe os efeitos. Se for o caso, utilize apenas um deles por dia para que se sinta melhor.

Posso consumir alimentos crus?

Sim, desde que sejam muito bem higienizados. A lavagem de vegetais que vão ser consumidos crus deve ser feita em água corrente deixando, em seguida, os alimentos de molho (Um litro de água para uma colher de sopa de água sanitária que possa ser usada em alimentos). Deixe por 15 minutos nessa solução e lave novamente em água corrente. Pacientes com diarreia devem priorizar os cozidos aos crus durante o período para não agravar o quadro.

Percebo um forte odor depois que fui ostomizado e por isso retirei alguns alimentos. Fiz certo?

Alguns alimentos, como ovo, carne, cebola e alho, podem deixar as fezes com odor mais forte, porém muitos deles são essenciais para nosso corpo. Caso a situação incomode muito, consuma apenas um por dia ou quando estiver em casa. Caso não veja problema, consuma normalmente. Alimentos como iogurte, coalhada caseira, hortelã, erva-doce, salsinha e salsão, além de chás, maçã, pêssego, pera, cenoura, chuchu e espinafre ajudam a reduzir o odor.

Como deve ser a consistência das fezes na ileostomia e na colostomia?

Na ileostomia, as fezes têm características mais líquidas e mais ácidas. Já na colostomia ascendente são semilíquidas; na colostomia transversa são semissólidas/pastosas; e na descendente e sigmoide são mais sólidas e formadas, menos ácidas e com maior presença de gases.

Posso consumir temperos prontos (em pó)?

Temperos e caldos em pó prontos são condimentos ultraprocessados, ou seja, têm poucos nutrientes e grandes quantidades de realçadores de sabor e aditivos químicos. Dessa forma, é indicado que seu uso seja evitado e substituído por temperos naturais secos ou frescos, pois são ricos em aroma e sabor, além de conferirem propriedades benéficas ao corpo, o que não é o caso dos temperos prontos.

Leite faz mal para quem é ostomizado?

O leite é um alimento completo, rico em proteínas, carboidratos, gorduras, vitamina D, cálcio e água. Porém, existem pessoas que não produzem (ou produzem pouco) a enzima lactase, que digere o carboidrato do leite (lactose), fazendo com que haja gases e diarreia. Após o consumo de leite e derivados, sintomas como gases, diarreia e estufamento devem ser observados e posteriormente confirmados através de exames. Se a intolerância for confirmada, o leite e seus derivados podem continuar sendo consumidos pelos ostomizados, mas estes devem utilizar a enzina lactase ou alimentos sem lactose para que haja melhor qualidade de vida.

Posso consumir carne de porco?

Cabe ao profissional de Nutrição a indicação do consumo de carne de porco após uma cirurgia devido a crenças de que essa proteína possa desencadear em algumas pessoas processos alérgicos, inflamatórios ou até piorar a cicatrização. Entretanto faltam estudos que comprovem esses malefícios. Se o ostomizado sempre consumiu essa proteína e nunca teve problemas, pode continuar após a cirurgia, desde que escolha cortes mais magros (como lombo, mignon suíno, bisteca ou pernil, por exemplo) sem a gordura aparente e priorize o preparo cozido, assado ou grelhado e sempre bem passado. Já os embutidos suínos – como salame, salsicha, presunto, linguiça, bacon e mortadela – devem ser evitados por apresentarem grandes quantidades de sal, aditivos, conservantes e gordura.

Posso utilizar pimenta?

Temperos picantes, como gengibre, páprica picante, mostarda, lemon pepper e pimentas em geral podem irritar o estoma em algumas pessoas. Porém, caso o ostomizado esteja habituado e sinta-se bem após o consumo, pode continuar com o uso, mas deve observar possíveis irritações no estoma. Caso haja, é aconselhável suspender o uso até que se recupere ou utilizar pequenas quantidades.

Posso tomar chá?

Depende do chá. Cada tipo de erva/planta tem uma propriedade diferente. Por exemplo, chá de camomila serve para acalmar; de hortelã melhora a digestão; a erva-doce ajuda a reduzir gases intestinais, e assim por diante. Esses são chás com propriedades benéficas, sem efeitos colaterais e que podem ser consumidos por praticamente todas as pessoas. Já outros, como o chá de sene, não são aconselháveis, pois podem causar grande desconforto e cólicas intestinais.

Posso comer pipoca/sementes?

Esses alimentos também não são consenso de indicação dos profissionais, ainda mais para pacientes com algumas doenças intestinais, como Diverticulose, Retocolite Ulcerativa e Doença de Crohn. No caso dos ostomizados, o maior problema do consumo de sementes é o risco de obstrução do estoma, principalmente na ileostomia, em que a abertura é menor. Mas se esses alimentos forem bem mastigados e se ingerida a quantidade de água recomendada, há menor possibilidade de problemas.

Quantos ovos posso comer por dia?

Ainda não há uma recomendação exata de quantos ovos podem ser consumidos por dia, pois depende das necessidades de cada pessoa, além da idade e da atividade física realizada. Ovos contêm proteína, vitaminas, minerais e gordura. Para uma alimentação saudável e equilibrada, é preciso consumir a quantidade de nutrientes adequada ao corpo, sem falta ou excesso.

No caso da proteína, devemos consumir em média duas porções de alimentos-fonte por dia, como ovos, peixe, frango e carne. Já em relação ao colesterol que está presente na gema do ovo, duas unidades já chegaria aos 300mg que é ingestão diária recomendada para pessoas saudáveis. A forma de preparo também é importante – prefira cozido, no molho, mexido, omelete ou pochê e evite fritar em muita gordura.

Ou seja, em média dois ovos por dia, levando em consideração outras fontes de proteína, o preparo e o consumo de outros produtos com gordura animal (manteiga, banha, creme de leite) para uma pessoa saudável está adequado.

Precisamos falar sobre estomia e os desafios com o padrão de cuidado no Brasil

Por: LUIZ TAVARES
Diretor Geral da Coloplast no Brasil

O atual cenário de saúde no Brasil e no mundo tem evidenciado a desigualdade presente em nosso sistema e os enormes desafios que temos pela frente para virar este jogo. Entre tantos problemas, contudo, é preciso olhar por aqueles que convivem com uma situação de saúde bastante íntima e pouco comentada: os estomizados.

Atualmente temos cerca de 120 mil pessoas com estomia no Brasil (considerando apenas estomas de eliminação), sendo cerca de 15 mil novos casos por ano. Destes, 75% vão receber os materiais pelo Sistema Único de Saúde e 25% por operadoras privadas. Somado a isso, temos um crescente diagnóstico de câncer colorretal — segundo tipo mais frequente em homens e mulheres e principal causa de confecção de estomias. O Instituto Nacional de Câncer prevê que para cada ano do triênio 2020/2022 sejam diagnosticados 40.990 novos casos.

Outro ponto importante: somos um dos países que oferece a menor média de bolsas externas de coleta aos pacientes. Via SUS, um estomizado consegue obter cerca de 10 bolsas externas de coleta por mês. Acontece que estas bolsas, diferentemente do que “se acredita”, são de uso único. E aí o cálculo é simples: se o mês tem, em média, 30 dias, isso significa que os usuários brasileiros precisam lavar suas bolsas, algo que é crítico para a saúde.

Em termos de acesso, desde 2013 temos uma conquista que é a regulamentação federal de assistência a pessoa com estomia através da Portaria 400, como resultado de um grande esforço a várias mãos. Porém, mesmo com a normativa, ainda estamos muito atrasados. Muitos pontos ainda precisam ser melhorados, como a definição do número mínimo de bolsas e inclusão de itens essenciais, como as bases adesivas convexas, por exemplo.

Por outro lado, a população precisa estar consciente do seu poder, informando-se sobre quais mudanças podem e devem ser feitas. Falta também engajamento político. Hoje, os programas de estomia podem até ser considerados onerosos para a administração pública, mas exemplos de outros países mostram que um padrão de cuidado mais elevado pode trazer economia para a saúde pública. E aqui estamos falando de evitar complicações que oneram mais o sistema para serem tratadas, como lesões de pele, além de outros impactos, como afastamento das atividades laborais e até mesmo depressão.

Fortalecer entidades que representam os estomizados também é uma alternativa. Existem associações e movimentos nacionais organizados que lutam pelos direitos das pessoas com estomia a nível federal.  Participar de suas atividades também é importante.

Estas barreiras só serão ultrapassadas quando obtivermos, de fato, a união entre o poder público e o privado, além do papel essencial das associações e entidades de classe que representam os estomizados em nosso país. O que temos hoje não pode ser encarado como algo normal. Precisamos, urgentemente, elevar o padrão de cuidado no Brasil e fazer entender que, se analisarmos os impactos dos custos para a Saúde versus a qualidade de vida dessas pessoas, esse cuidado irá valer muito a pena.

Expectativa de um ano muito melhor do que o anterior

Neste mês de janeiro a Associação Paranaense dos Ostomizados completa 32 anos de atividade. Em toda essa história nunca passamos por situações tão atípicas como as que ocorreram em 2020: cinco meses de portas fechadas sem poder atender nossos pacientes, sem reuniões mensais, sem os costumeiros eventos de confraternização e, pela primeira vez, sem realizar as atividades tradicionais relacionadas ao Dia Nacional do Ostomizados, no centro de Curitiba.

No entanto, mesmo com as dificuldades, acreditamos que neste ano as coisas serão melhores para os ostomizados atendidos. Com funcionamento da nossa sede entre segunda e quinta-feira, das 14h às 17h, por ora apenas os eventos, como é o caso das reuniões mensais, permanecem sem acontecer. Nosso principal objetivo para 2021 é manter os atendimentos com todos os protocolos de saúde relacionados à pandemia. Ao final do ano também teremos as eleições que definirão novos integrantes da diretoria da associação, e é importante que mais pessoas estejam preparadas para assumir essa nobre e recompensadora missão.

Cabe aqui um destaque: como já relatado em edições anteriores do Jornal APO, passamos por carência de novos voluntários, pois várias pessoas que ajudavam a associação precisaram se afastar por integrarem grupos de risco. Nosso quadro de voluntários está no limite e precisamos de mais pessoas. A atividade com maior carência é a de recepção – o voluntário recebe o paciente, elabora o cadastro, passa as primeiras orientações e o encaminha para o atendimento de enfermagem. Se você pode colaborar em uma tarde por semana ou conhece alguém que possa contribuir, entre em contato conosco com urgência.

Em 2021 só deixaremos de atender caso haja um agravamento expressivo da pandemia, porém nosso atendimento permanece limitado pela falta de pessoal. Participe da forma que puder, seja dedicando um tempo da sua semana, recomendando possíveis voluntários ou trazendo novas ideias. A APO é um corpo que depende de várias pessoas, e você pode exercer um papel determinante para que tenhamos um ano muito melhor do que o anterior!

Cuidados essenciais em época de final e início de ano

Por: Glória Marcondes – Enfermeira estomaterapeuta e assessora técnica da Casex

O último mês do ano marca duas campanhas importantes na área da saúde: a primeira delas é o Dezembro Vermelho, um alerta para o vírus HIV. Dados de 2017 indicam que 882 mil brasileiros viviam com o vírus da AIDS, e cerca de 40 mil novos casos são registrados por ano. Já a segunda, o Dezembro Laranja, visa a conscientização sobre o câncer de pele, uma medida de prevenção ao câncer mais comum no país.
Precisamos nos proteger dessas duas patologias que, se diagnosticadas precocemente, podem apresentar cursos bastante diferentes, com prognósticos mais positivos.

Por outro lado, o mês de dezembro costuma ser intenso, cheio de atividades para finalizar agendas e ciclos, como também de loucuras de compras de presentes e de alimentos diferentes para as festas. É uma época bastante corrida, com todos os lugares lotados. Em 2020, apesar da pandemia, não esteve muito diferente. Vimos pela TV como as principais ruas de comércio estavam lotadas de gente e de trânsito, assim como os supermercados e shoppings.

No meio de tantas demandas, temos que tomar cuidado para não descuidar do essencial também neste início de ano. E pensando em estomia, é fundamental manter os cuidados. Lembre-se de ingerir líquidos (de preferência água) na quantidade recomendada para seu peso. São necessários 35 ml de água por quilo de peso corporal. Dessa maneira, é necessário multiplicar seu peso em kg por 35 para obter o resultado em ml (por exemplo: 70 kg x 35 = 2.450 ml). Lembre também de cuidar da higiene da pele e dos coletores. Os equipamentos coletores podem ser trocados a cada três dias. Isso varia para bolsas fechadas, pois haverá troca de uma a duas vezes por dia. A utilização de adjuvantes, protetores, removedores, cintos, filtros de carvão, etc. são de dispensação individualizada, pois cada caso é um caso e há determinados acessórios indicados.

Vale lembrar também que nas épocas de fim e início de ano é comum que ocorram faltas de equipamentos, e que as empresas entrem em recesso até janeiro, então a prevenção quanto à falta de material é um cuidado que todos devem ter. Fazer um pequeno estoque ou, principalmente, estar conectado a outras pessoas com estomia através das redes sociais é muito positivo e pode ser a salvação em situações de emergência. Eu valorizo muito as associações de estomizados, pois é uma benção fazer parte de um grupo de pessoas que passam por situações similares e entendem como ninguém a problemática.

Outra observação importante ainda para este início de ano: cuidado triplicado para viagens ou encontros de família, por conta da pandemia.

Desejamos um 2021 muito promissor, com as vacinas nos trazendo para o novo normal!