Voluntária na Associação Paranaense dos Ostomizados há mais de 30 anos, Neusa Lemes Guimarães Dolci, de 79 anos, permanece atuando no dia a dia da APO. Ileostomizada desde 1984, ela já exerceu vários cargos na diretoria e atualmente ocupa o posto de 2ª conselheira fiscal, além de ajudar nos atendimentos diários aos ostomizados na sede da associação.
Após passar por grandes dificuldades nos primeiros anos pós-cirurgia, principalmente por falta de apoio e de informações capazes de trazer melhor qualidade de vida dentro de sua nova condição, ela nunca deixou de dedicar tempo ao trabalho voluntário para melhorar a vida dos ostomizados paranaenses recém-operados.
Leia a seguir a entrevista do Jornal APO com Neusa Dolci:
Em primeiro lugar, gostaria que a senhora contasse um pouco sobre como conheceu a associação e como tem sido sua atuação no dia a dia da APO desde então.
Neusa Dolci: Eu me operei antes da fundação da APO. A associação foi fundada em 20 de janeiro de 1989, e nessa época eu já tinha feito a cirurgia há alguns anos. O médico que me operou era muito bom e, graças a Deus, deu tudo certo. Mas fiquei um bom tempo sem nenhum apoio. A gente não tinha informação nenhuma sobre como levar essa nova condição de vida. Eu não entendia o que estava acontecendo, e demorou até cair a ficha.
Eu assisti a primeira reunião com o fundador da associação. Não tínhamos sede, a gente fazia as reuniões na Câmara dos Vereadores. Depois que a associação foi criada, tudo melhorou. Ali eu conheci pessoas muito importantes que contribuíram enormemente em minha vida.
Se comparar com aquela época, de uma forma geral tudo é mais fácil hoje. Eu sempre falo para as pessoas que chegam na associação, muitas vezes preocupadas – e claro, é uma preocupação, não é fácil para a gente que passou pela cirurgia –, que hoje tudo é muito mais fácil. Podemos escolher o modelo e a marca dos equipamentos que queremos, temos estomaterapeuta à disposição. Hoje nós estamos no primeiro mundo!
Além disso, estamos bem mais amparados pelas leis, pela tecnologia, pela enfermagem. Hoje, por exemplo, as pessoas têm o luxo de ter estomaterapeutas disponíveis para atender na associação todos os dias, pessoas formadas prontas para atender gratuitamente. Pelo que eu passei, nós estamos no céu! Não tinha informação, não tinha para onde ir.
Sua experiência com o voluntariado contribuiu para seu bem-estar como ostomizada?
Neusa Dolci: Com certeza! Comecei há 30 anos, mas todos os dias continuam sendo maravilhosos. Cada dia que se faz o voluntariado é uma experiência primeiramente para nós, e depois para quem podemos ajudar. Tem pessoas que chegam na associação, e ao conversar com elas conseguimos tranquilizá-las e mostrar que elas vão superar essa fase.
Agora, recentemente, na primeira reunião que tivemos desde o começo da pandemia, eu fiz o cafezinho para os participantes. Isso me fez tão bem. No ano passado, passei por um momento difícil de saúde, aí entraram as questões da pandemia junto. Foi muito difícil, então quando voltei para a associação, pensei: “Ah, meu Deus, estou em casa!”. Como é bom ver de novo as pessoas, estar presente no dia a dia.
Qual é sua expectativa quanto ao futuro da associação?
Neusa Dolci: Pelo que a gente está vendo nesses poucos dias no voluntariado pós-pandemia, é um momento para revolucionar. Estamos vendo novas pessoas chegando, a associação está crescendo, está sendo cada vez mais divulgada e conhecida.
Percebo também que o pessoal está bem motivado, está havendo um movimento em que estamos vendo que o futuro vai ser muito abençoado. O movimento de pessoas está sendo grande, as empresas fabricantes de produtos para ostomia também estão dando um apoio muito grande e, graças a Deus, não está faltando materiais de ostomia para distribuirmos para as pessoas que precisam, isso é muito importante.
Se a gente olhar para trás, por tudo o que a gente ralou, hoje estamos muito bem e a expectativa é de avançar cada vez mais!