A resiliência do paciente ostomizado

Se pegarmos uma vareta de vidro e tentarmos dobrá-la, ela quebrará e nunca retornará ao que era antes. Se fizermos o mesmo com uma tira de borracha, ela vergará, mudando sua forma, e voltará à forma original assim que a soltarmos. A esta propriedade dos materiais, de voltar à forma original após ter sofrido tensão, dá-se o nome de resiliência.

Da mesma forma que os materiais, as pessoas também podem se comportar de formas diferentes após situações de estresse: algumas vezes as adversidades são rapidamente superadas, outras vezes o sofrimento pode se arrastar por muito tempo. A capacidade de a pessoa se reestruturar após o estresse também pode ser chamada de resiliência.

Quando alguém passa por uma cirurgia de ostomia, de início já tem que enfrentar dois obstáculos: primeiro, o problema que levou à necessidade da ostomia, que mais comumente é um câncer; segundo, as mudanças de vida trazidas pela ostomia, como a utilização de uma bolsa coletora de fezes ou urina. A isso somam-se os medos e incertezas a respeito das mudanças no corpo, evolução da doença e implicações sociais. Ainda que algumas pessoas consigam ver a ostomia com otimismo, inicialmente as perdas e alterações no estilo de vida assumem um papel muito grande na esfera emocional, podendo trazer sentimentos de pouca utilidade, de dependência e de isolamento social.

A decisão de a quem contar sobre a ostomia, quando, como, onde, também pode ser mais um fator de estresse, pelo receio da rejeição social.

O primeiro passo para poder contar aos outros é a própria pessoa ostomizada aceitar-se em sua nova condição. Quando a própria pessoa olha para a ostomia como algo anormal, indesejável e ocultável fica muito mais difícil sua readaptação social. E muitas vezes, o preconceito da própria pessoa ostomizada é maior que o dos demais.

Ser resiliente não significa não ser afetado pelos estressores. No caso da pessoa ostomizada, é esperado que a fase inicial não seja fácil. Neste caso, ser resiliente consiste em adaptar-se às mudanças, encontrando novas estratégias para continuar se sentindo uma pessoa inteira, na sociedade, na família e consigo mesmo, na sua identidade pessoal. A resiliência não é algo que nasce e morre com a pessoa. Ela envolve tanto fatores pessoais como ambientais, ou seja, ela pode ser desenvolvida. Algumas vezes é justamente quando ocorre um evento negativo que se encontra a oportunidade para reorganizar a vida e renovar a vontade de seguir em frente.

Angela de Loyola Runnacles
Psicóloga clínica no Crescer com Afeto, Mestre em Psicologia pela UFPR.

Conheça 10 dicas de resiliência para ostomizados!