
Por: Aline Fernanda dos Santos | Nutricionista e ex-vice-presidente APO
A depressão é um problema de saúde pública global, e, após a pandemia de Covid-19, os números dessa condição aumentaram significativamente. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), mais de 11 milhões de brasileiros são afetados pela doença.
A depressão é uma condição multifatorial, ou seja, pode ser causada por diferentes fatores. Nos últimos anos, um deles tem chamado a atenção dos pesquisadores: a relação entre o intestino e o cérebro, conhecida como eixo intestino-cérebro.
Um estudo intitulado Brain-gut-microbiota axis in depression: A historical overview and future directions (2022) trouxe uma revisão detalhada sobre o tema. Segundo os autores, há evidências de que a microbiota intestinal se comunica com o sistema nervoso central (SNC) por meio de diferentes vias, influenciando diretamente a saúde mental, incluindo a depressão (Foster e McVey Neufeld, 2013; Morais et al., 2021; Simpson et al., 2021).
Como o intestino se comunica com o cérebro?
O sistema nervoso central e o sistema nervoso entérico (SNE) estão em constante troca de informações. O cérebro envia sinais para o intestino que regulam o apetite, o metabolismo e a digestão. Por outro lado, um intestino desequilibrado pode enviar ao cérebro sinais inflamatórios e prejudicar a absorção de medicamentos psiquiátricos, essenciais para o tratamento da depressão.
Pesquisas em animais mostraram que ratos com maior presença de ácidos graxos de cadeia curta e bactérias intestinais benéficas lidavam melhor com o estresse. Já estudos em humanos diagnosticados com depressão identificaram diferenças na composição da microbiota intestinal entre pessoas com e sem a doença.
A reposição de probióticos – conhecidas como “bactérias boas” – pode auxiliar no tratamento da depressão, desde que seja feita no momento adequado e com orientação médica ou nutricional.
O papel dos ácidos graxos de cadeia curta
Os ácidos graxos de cadeia curta (AGCC), produzidos pelas bactérias intestinais, desempenham um papel fundamental na saúde mental. Eles contribuem para a produção de serotonina – o neurotransmissor do bem-estar – e ajudam a fortalecer a barreira hematoencefálica, protegendo o cérebro contra inflamações e outras doenças.
Como cuidar do intestino e melhorar a saúde mental?
Para fortalecer a comunicação entre o intestino e o cérebro, algumas mudanças na rotina podem ajudar:
✔️ Manter uma alimentação equilibrada, rica em fibras e alimentos naturais;
✔️ Reduzir o consumo de alimentos ultraprocessados, como biscoitos, bolos industrializados, cereais matinais e caldas açucaradas;
✔️ Evitar o excesso de gordura saturada na dieta;
✔️ Utilizar medicações conforme orientação médica;
✔️ Praticar atividade física regularmente, o que também contribui para a saúde intestinal.
Por fim, se você tem sentido dificuldades para lidar com suas emoções e pensamentos, procure apoio profissional. Médicos, enfermeiros e psicólogos podem ajudar. Se necessário, busque atendimento em uma Unidade Básica de Saúde (UBS) ou Unidade de Pronto Atendimento (UPA). Você não está sozinho, e há caminhos para melhorar sua saúde mental!