Por: Gabriel Sestrem
A partir da necessidade de isolamento social para conter a transmissão da Covid-19, desde março pacientes de todo Brasil têm a oportunidade de receber atendimento médico a distância por meio de consultas remotas. Graças à democratização da tecnologia, com mais pessoas tendo acesso a aparelhos de celular e à Internet de maior qualidade, a chamada “telemedicina” já vinha se desenvolvendo em vários países nos últimos anos, e aqui no Brasil também já era discutida por políticos, gestores e instituições de saúde. Mas foi a partir da pandemia do novo coronavírus que a modalidade ganhou impulso para se desenvolver.
Logo após os primeiros casos da Covid-19 no Brasil, o Ministério da Saúde autorizou, por meio da Portaria nº 467 (20 de março), as consultas remotas em caráter temporário e excepcional. Pouco tempo depois, em 16 de abril, o presidente Jair Bolsonaro sancionou a lei 13.989/2020, que autoriza a prática da telemedicina em todas as áreas da saúde enquanto durar a crise.
Com essas medidas, a prática vem se desenvolvendo em todas as regiões do país. Em Curitiba, foi criada uma central de atendimento com médicos da rede pública disponíveis para receber ligações de pessoas com casos suspeitos de Covid-19. Todo o atendimento é prestado a distância – o primeiro contato é feito por telefone e, caso o médico entenda que o paciente precisa de uma análise um pouco mais aprofundada, a pessoa é direcionada ao atendimento por chamada de vídeo. A partir do atendimento por vídeo, se o médico concluir que é necessária a consulta presencial, o paciente é imediatamente encaminhado a uma unidade de saúde. Após passar pela central, a pessoa tem seu quadro monitorado, inclusive com os profissionais de saúde ligando diariamente durante 14 dias para os pacientes a fim de acompanhar seu quadro clínico. De acordo com a Secretaria Municipal de Saúde (SMS), a central recebe, em média, 700 ligações diárias, sendo que no início da pandemia essa média chegou a 1.500 ligações por dia.
Para Oksana Volochtchuk, diretora do Departamento de Atenção à Saúde da SMS, a experiência com o teleatendimento tem sido bastante positiva. “Há situações em que apenas por telefone não seria possível avaliar, mas passando à videoconsulta, com o médico olhando para o paciente, conversando e avaliando o estado geral foi possível entender mais a fundo as necessidades dos pacientes. Muitos são encaminhados ao atendimento presencial, enquanto outros, durante as consultas remotas percebemos que se tratava de um quadro mais tranquilo, que poderia ser conduzido na residência do paciente, com o médico prestando todas as orientações. Se não fosse esse atendimento a distância, a pessoa teria ido a uma unidade de saúde e, mesmo não estando contaminada com a Covid-19, estaria em risco”, conta.
Apesar de a central de atendimento da Secretaria Municipal de Saúde atualmente atender apenas pacientes com sintomas respiratórios, Oksana afirma que há estudos para atender outras especialidades por meio das consultas remotas. A diretora também destaca que o teleatendimento deve ganhar força e se desenvolver mais após o término da pandemia. “Há um novo olhar de toda a categoria de saúde. Acredito que isso será discutido amplamente e que as consultas remotas sejam regulamentadas de forma permanente em breve”, afirma.
Para o médico e gestor da SMS, Dr. Homero Luís de Aquino Palma, as consultas remotas vêm apresentando bons resultados e tendo grande aceitação tanto por parte dos pacientes quanto dos profissionais de saúde. “Toda essa difícil situação de pandemia também trouxe algumas coisas boas, e uma delas é a possibilidade desse tipo de interação entre médico e paciente. Tínhamos uma série de restrições quanto à telemedicina, como a impossibilidade de prescrever medicamentos ou emitir atestados a distância, por exemplo. Agora, com a situação da pandemia, isso foi permitido, e tem sido muito positivo para os pacientes e para a prática dos profissionais de saúde”, observa.
Dr. Homero, entretanto, pontua que a consulta a distância não substitui a presencial. “O atendimento remoto é útil principalmente para orientação e também para aqueles pacientes que já conhecemos a história e cujo quadro clínico não tenha tido nenhuma alteração quanto à sua condição física. Porém há situações em que o a consulta presencial é indispensável”, explica.
FUTURO
A princípio a aplicação da telemedicina no Brasil é temporária. A autorização vale enquanto durar a pandemia. Porém, com grande aceitação dos pacientes – tanto da saúde pública quanto privada –, principalmente graças a benefícios como economia de tempo e transporte, e também dos profissionais de saúde, há a expectativa de que as consultas remotas possa permanecer após o encerramento da quarentena.
Atualmente há uma comissão especial do Conselho Federal de Medicina (CFM) discutindo a prática da telemedicina no Brasil. O grupo vem se reunindo desde junho com o objetivo de propor mecanismos que proporcionem a implementação técnica, ética e segura da modalidade. “Existe a expectativa de que após o encerramento da quarentena a telemedicina permaneça. O CFM já vinha desenhando esse processo, que é uma realidade difícil de frear. Acredito que quando a pandemia acabar, teremos o teleatendimento como mais uma ferramenta de cuidado à saúde”, afirma Dr. Homero.