Um estudo de 2020 investigou o impacto da ostomia na sexualidade masculina por meio de uma revisão integrativa, analisando e resumindo 8.266 publicações. Foram selecionados 21 estudos relevantes para exploração mais aprofundada.
A Organização Mundial da Saúde reconhece a sexualidade como um pilar da qualidade de vida. Esta, entretanto, é uma das áreas do bem-estar individual que podem ser afetadas pela ostomia. Segundo Meira et al., 2020, a ostomia pode causar repercussões negativas na sexualidade masculina, como luto pelo membro “invisível” amputado, perda de autoconfiança e controle das eliminações intestinais, além de disfunções sexuais devido a lesões dos nervos perineais durante a cirurgia.
“(…) o procedimento cirúrgico de construção da estomia pode ter influência sobre o funcionamento sexual de homens, já que ressecções intestinais e lesões dos nervos perineais podem advir, desencadeando vários problemas fisiológicos, tais como disfunção erétil, dos distúrbios ejaculatórios e da infertilidade”, dizem os cientistas.
Um dos primeiros pontos relevantes trazidos pelos autores consiste na explicação sobre a fase sexual completa, que passa pela excitação inicial, ereção, ejaculação, até o relaxamento, incluindo em si o prazer e a satisfação. A disfunção sexual acontece quando alguma das etapas citadas acima não ocorre.
Outros pontos associados à disfunção erétil em homens e que não está somente relacionada à ostomia se relacionam com condições metabólicas que afetam a circulação sanguínea, como obesidade, diabetes mellitus, pressão alta, sedentarismo (ausência da prática de atividade física) e problemas no trato urinário.
Já os impactos fisiológicos, isto é, aqueles relacionados aos cortes realizados na cirurgia, podem trazer prejuízos para a ereção, ejaculação e fertilidade.
Fatores psicológicos também foram encontrados nos estudos, afinal, a atividade sexual necessita de estímulos sensoriais diversos, como a visão e a audição. Aqui, incluo também a necessidade de um bom relacionamento com a parceira – relacionamento este que pode ser impactado devido às preocupações relacionadas à ostomia, bem como o fato de a esposa assumir um papel de cuidador, por vezes deixando a relação de casal em segundo plano.
Em relação a esses desafios, cabe aos profissionais de saúde incentivarem a adoção de estilo de vida saudável, o qual envolve alimentação saudável, prática de atividade física, hidratação adequada, cessação de álcool e tabagismo, manejo de ansiedade e estresse. Para isso, a Associação Paranaense dos Ostomizados oferece gratuitamente atendimento com profissionais de nutrição, enfermagem e psicologia para contribuir com o bem estar dos ostomizados.
Vale ressaltar que o estudo analisado menciona o exercício físico, com destaque aos aeróbicos de moderada a elevada intensidade, como estratégia para a melhoria da disfunção sexual.
Um outro aspecto está na informação passada pelos profissionais de saúde. “Estudo transversal realizado com 3 mil pessoas estomizadas da América do Norte e Reino Unido revelou que os pacientes relataram (…) que tinham a percepção de terem recebido informações inadequadas quanto à dificuldade apresentada, fato que também foi associado à presença de problemas emocionais, conjugais e sociais.” Isso demonstra a importância do acompanhamento pela equipe de enfermagem e individualização das orientações, sempre que possível.
Em conclusão, percebe-se a importância do autoconhecimento e autocuidado – campo por vezes negligenciado pelo homem quando se trata de saúde. Os homens procuram menos os médicos quando comparado com as mulheres. A partir de uma observação profunda e sincera sobre si mesmo, é possível identificar o que pode estar ocasionando a dificuldade sexual e, assim, criar ações, juntamente com os profissionais de saúde de sua confiança para melhoria.
Texto escrito por Aline Fernanda (vice-presidente da APO), adaptado de estudo realizado pela equipe de Isabella Felix de Araújo Meira, intitulado “Repercussões da estomia intestinal na sexualidade de homens: revisão integrativa”, publicado na Revista Brasileira de Enfermagem