Cirurgia de reversão de colostomia e ileostomia: o que é e para quem é indicado?

Notando dúvidas comuns entre muitos ostomizados a respeito da reversão, ou seja, a reconstrução do trânsito intestinal em pacientes colostomizados e ileostomizados, a APO entrevistou o oncologista doutor Massakazu Kato, a enfermeira Salete Ferreira de Godoi Kato e a nutricionista Camila Brandão Polarowski para coletar informações úteis a respeito do conceito e viabilidade da reversão.

É denominado ostoma (ou estoma) toda comunicação artificial entre um órgão oco com o exterior. Conforme a localização, o ostoma recebe denominação própria. Dessa forma, a ileostomia é no íleo e colostomia é no colon (intestino grosso), assim como a duodenostomia é no duodeno, jejunostomia é no jejuno e assim por diante. Suas funções também são diferentes. A duodenostomia e a jejunostomia servem para alimentar e a ileostomia e colostomia, para eliminar conteúdo fecal.

A ileostomia e a colostomia em alças geralmente são temporárias e a reversão consiste apenas no seu fechamento através da enterorrafia (no íleo) e da colorrafia (no colon). Já a ileostomia e a colostomia terminal podem ser revertidas quando no procedimento cirúrgico foi deixado um segmento do reto e este procedimento se realiza através de uma anastomose (emenda) do íleo com o reto ou do colon com o reto.

Os casos em que a reversão é indicada também são variáveis. Como exemplo, um paciente que possuía um tumor, retirou a área doente em processo cirúrgico, fez o tratamento e ficou estável. Nesse caso são realizados uma série de exames que indicarão se é possível ou não fazer a reconstrução. “É um processo que varia de pessoa para pessoa. Há casos em que o médico jamais vai recomendar uma reconstrução”, afirma Salete.

O período mínimo para fazer a reversão após a cirurgia são 40 dias, mas esses casos são raros. Geralmente as cirurgias acontecem entre três e seis meses ou mais, dependendo da doença.

Como em qualquer cirurgia existem riscos. Especificamente no caso da reversão, há riscos como fazer fístulas (abertura da emenda e extravasamento de conteúdo fecal para fora ou para dentro da cavidade abdominal) ou obstruções (fechamento da área da emenda causando dificuldade parcial ou total da passagem do conteúdo fecal), havendo necessidade de refazer a cirurgia. As causas podem ser devido a má cicatrização, rejeição do corpo pela intervenção, infecção, entre outros. “Nos casos de ileostomia e colostomia em alça, se for feito um estímulo no segmento em repouso fazendo com que o paciente evacue pelo ânus antes do fechamento, as complicações pós-operatórias são menos frequentes”, afirma doutor Kato.

Após a cirurgia, o médico vai avaliar qual é o período de acompanhamento médico pós operatório. Na maioria dos casos, o paciente vai ser periodicamente acompanhado de forma permanente, tendo retornos mais próximos no primeiro mês e mais espaçado nos períodos seguintes.

Como citado, existem complicações pós-operatórias que podem ocorrer em decorrência da cirurgia de reversão. No entanto, existem casos bem sucedidos em que foi possível restaurar inteiramente a trânsito intestinal. Um desses casos é o da voluntária da Associação Paranaense dos Ostomizados, Sandra Cristina Martins. Sandra foi submetida a uma ileostomia em março de 2014. Antes de realizar a cirurgia, foi orientada pelo médico de que poderia ser feita a reversão em um prazo de oito a doze meses. No entanto, com sete meses após a ileostomia, Sandra foi chamada para fazer a reversão, o que ocorreu em outubro de 2014 após a realização dos exames pré-operatórios. “A cirurgia foi tranquila e sem complicações. Fiquei três dias no hospital e logo vim para casa. Mas o processo de adaptação foi um pouco complicado. Até se acostumar foi difícil. No começo pensei que seria melhor ter permanecido com a bolsa. Tive muitas queimações na pele, fissuras, dermatite. Mas depois do processo de adaptação me senti bem melhor”, afirma Sandra.

Sandra foi submetida a cirurgia de ileostomia em março de 2014 e sete meses mais tarde, no mesmo ano, fez a cirurgia de reversão

CONCLUSÃO
O paciente ostomizado precisa ter consciência de que é o médico (oncologista, coloproctologista, gastroenterologista) quem pode determinar se é possível ou não realizar a reconstrução do trânsito intestinal. Em alguns pacientes ostomizados, a reversão será possível e em outros impossível. A melhor maneira de saber se no seu caso será possível é tendo uma boa conversa com seu médico.

 

Alimentação no pré-operatório de reconstrução de trânsito (reversão)

 

A alimentação deve ser conforme o habitual, contendo todos os grupos de alimentos. A alimentação saudável deve incluir água, carboidratos, proteínas, lipídios, vitaminas, fibras e minerais, os quais são insubstituíveis e indispensáveis ao bom funcionamento do organismo.

Veja alguns passos para uma alimentação variada e equilibrada:

1. Faça pelo menos três refeições (café da manhã, almoço e janta) e dois lanches por dia. Não pule as refeições e controle a quantidade.
2. Aumente e varie o consumo de frutas, legumes e verduras. Coma-os cinco vezes por dia.
3. Coma feijão com arroz todos os dias, ou pelo menos cinco vezes por semana. Esse prato brasileiro é uma combinação completa de proteínas.
4. Consuma diariamente três porções de leite e derivados e uma porção de carnes, aves, peixes ou ovos. Retirar a gordura aparente das carnes e a pele das aves antes do preparo, podendo ser cozido, grelhado ou assado.
5. Reduza o consumo de doces, bolos, biscoitos e outros alimentos ricos em açúcar.
6. Reduza o consumo de álcool e refrigerantes.
7. Tome no mínimo 8 copos de água diariamente.
Caso haja necessidade marque uma consulta com uma nutricionista para detalhamento das orientações nutricionais.

Camila Brandão Polakowski
Nutricionista (CRN 8 6951)

Como está o cuidado com sua alimentação?

Jamile Beatriz Prestes
Nutricionista Clínica (CRN 9.494)

Cada indivíduo portador de ostomia possui uma relação específica com a alimentação, sendo que alguns possuem uma resistência maior a determinados alimentos ou preparações e outros conseguem se alimentar normalmente. Mas o que escolher?  Será que tudo está liberado? Quais os cuidados que preciso ter com minha alimentação?

Como cada pessoa responde ao alimento de uma forma distinta, levantei nesse artigo os principais pontos que precisam ser respeitados quando falamos de alimentação. A hidratação corporal precisa ser constante, respeitando a média de 30-50 ml por kg de peso com uma média de dois a três litros no dia, incluindo água, água de coco e sucos naturais, sem adição de açucares.

A alimentação precisa seguir os mesmos conselhos da população geral, que descreve o fracionamento das refeições em seis vezes ao dia, de forma completa, com todos os grupos alimentares. Além disse, é importante reservar um horário para as refeições para que se possa, com calma, saborear e mastigar lentamente cada porção. Ao experimentar um novo alimento, inclua em seu cardápio um alimento de cada vez, em pequena quantidade e observe a reação que este causará em seu organismo.

É importante também evitar alguns alimentos irritantes como gorduras, frituras, refrigerantes, temperos fortes e alimentos que produzem gases, como ovos, feijão e bebidas gasosas. É necessário observar cuidadosamente o débito na bolsa e observar a consistência eliminada. Evitar alimentos que amolecem demais as fezes, como as verduras e frutas cruas, lentilha, ervilhas, bagaços de laranja etc. e alimentos que provocam distensão como batata, inhame, maçã cozida, banana prata, arroz branco etc. Alguns alimentos produzem cheiro forte nas fezes, como a cebola, alho cru, ovos cozidos, repolho e frutos do mar. Podemos neutralizar esses cheiros oferecendo ao organismo alimentos como a cenoura, chuchu, espinafre, amido de milho, entre outros. Destaco que a restrição alimentar desses produtos varia entre os indivíduos, e por esse motivo é necessário verificar a tolerância do paciente e a resposta a cada alimento.

Consulte seu nutricionista para um detalhamento e um plano alimentar específico a sua realidade. Seguindo corretamente as orientações médicas e nutricionais, a qualidade de vida do paciente é alcançada.

A criança ostomizada e a escola

Por Maria Carlos (enfermeira voluntária na APO)

Um tema pouco abordado, porém de grande relevância, trata da criança ostomizada. Sabemos que qualquer procedimento terapêutico infantil causa estresse, tanto às crianças quanto aos pais.

As ostomias intestinais e urinárias resultam de procedimentos cirúrgicos com o
objetivo de criar uma abertura (estoma), cuja função será
excretar a urina ou as fezes, substituindo as vias naturais.

As principais causas que levam uma criança a ostomia são:
– Anomalias congênitas. Ex: agenesia (falta de anus) ou atresia (estreitamento do reto);
–   Doenças inflamatórias;
–   Neoplasia;
–   Traumas abdominais;
–  Má formação do aparelho urinário

Os pais precisam receber apoio, informação, recursos técnicos e materiais para desempenhar a tarefa de cuidar e educar, visando o desenvolvimento físico, emocional e
intelectual de seus filhos.

Sabemos que é dever do Estado oferecer suporte à família, dando condições adequadas no que diz respeito à saúde, educação e segurança, segurança de todos. A equipe de Saúde tem grande responsabilidade no processo de informar, capacitar e acompanhar, agindo como facilitador na execução dos cuidados.

É importante lembrarmos que as crianças são todas iguais. Ostomizadas ou não, quando pequenas, necessitam de cuidados especiais. Quem troca as fraudas, com treinamento, aprende a trocar as bolsinhas. A ostomia não deve ser vista como empecilho ao desenvolvimento da criança. Os pais e educadores precisam superar qualquer barreira, reforçando valores que despertem a autoconfiança e a independência delas.

Na APO tivemos a oportunidade de conhecer e acompanhar a história de um lindo menino ostomizado, cujos pais relutavam em levá-lo à escola por recear que viesse a sofrer algum tipo de rejeição. Foram orientados a falar com os educadores sobre as condições da criança. Os profissionais ficaram sensibilizados e proporcionaram as condições necessárias para que ele participasse das atividades escolares inerentes ao desenvolvimento saudável.

Esse menino tornou-se um belo jovem ostomizado (ainda). Atualmente estuda, trabalha e namora, como qualquer outro de sua idade. Essa é a prova de que a ostomia não incapacita, somente requer alguns cuidados especiais.

A APO está à disposição para ajudar casos de ostomia em crianças. Faça-nos uma visita!