Suposição ou disposição: Como ajudar um paciente ostomizado?

Este texto é um convite para os interessados na convivência e também no cuidado das pessoas que, por uma razão ou outra, foram submetidas a uma cirurgia de ostomia. É um convite para refletir sobre as formas com que podemos contribuir para o processo de adaptação do paciente.

Ao se pensar em pacientes ostomizados, muitas questões podem passar pela nossa cabeça, como por exemplo:

  • Que diagnóstico tornou necessária a realização da ostomia?
  • Quais sintomas a pessoa que passa por essa cirurgia pode experimentar?
  • Como essa pessoa está?
  • Como está sendo a adaptação?
  • Será que essa pessoa tem vergonha?
  • Vergonha do que?
  • Será que tem dor?

E assim, várias outras perguntas podem surgir diante da notícia de que alguém que conhecemos passou ou vai passar por um procedimento cirúrgico que irá gerar tantas alterações.

Com base nessas e várias outras perguntas que podem surgir na mente de quem tem qualquer tipo de relacionamento com um paciente ostomizado, podemos entrar em um campo perigoso, pedregoso e por vezes fácil de cruzar: o campo das SUPOSIÇÕES, o campo do “eu acho”.

Quando experimentamos “na pele” alguma coisa, quase sempre sabemos ao certo o que estamos sentindo. Ora, se eu bato o pé em uma quina de mesa, sei exatamente onde eu bati, o quanto dói e a quem eu devo xingar. Mas se vejo alguém bater o pé na mesma mesinha, eu posso apenas SUPOR que doeu, tentar adivinhar onde bateu e eventualmente ser ofendido por estar “piorando a situação”.  Ou talvez, SUPOR que tenha sido uma pancadinha leve e que nem deve ter sido tão ruim, enquanto a pessoa que bateu o pé tem a convicção de que deve ter quebrado o dedo.

Exemplo bobo, eu sei. Mas serve para pensarmos no quanto, ao estar ao lado de alguém que está passando pela experiência de estar ostomizado, podemos contar com duas coisas: nossas suposições, que nem sempre estarão corretas, ou nossa disposição de permitir que a pessoa nos conte, com suas palavras, sobre a experiência que está vivendo e sobre como podemos ajudá-la.

Demonstrar o desejo de saber como o paciente ostomizado experimenta a situação, validando seus sentimentos e garantindo a ele o direito de sentir-se como se sente (e não como alguém “acha” que ele deveria se sentir), permitindo que o paciente conte a alguém e com alguém nesse processo. Aí sim, faz-se um grande bem para a pessoa. Não é possível medir a dor do outro, portanto não seria justo julgá-la ou reduzi-la a algo que possa ser contornado com dicas ou cartilhas.

Por essa razão, esse artigo não fala de soluções mágicas ou simples, mas talvez de uma das coisas mais maravilhosas e difíceis que possamos fazer por alguém com quem nos preocupamos, que é abrir mão do “eu acho” e se dispor a ouvir o outro com genuíno interesse e respeito.

 

MARIANA PINHEIRO PINHO
Psicóloga
Hospital Erasto Gaertner
CRP 08/16505

 

 

 

Evento em homenagem às mães completa dez anos

O Café das Mães promovido pela Associação Paranaense dos Ostomizados no dia 12 de maio marca a décima edição do evento em homenagem às mães, que ocorre anualmente e ininterruptamente desde 2008.

“O Café das Mães é um evento muito importante porque reúne não apenas os ostomizados, mas também pessoas próximas, como familiares e amigos. Chegar à décima edição de um evento tão especial  como esse demonstra a importância que a associação busca dar aos momentos de confraternização entre os membros”, destaca a presidente da Associação Paranaense dos Ostomizados, Luiza Helena Ferreira Silveira. “Agradecemos especialmente aos voluntários que sempre nos ajudam nos eventos e às empresas fabricantes de produtos para ostomia, que em todos esses anos estiveram apoiando sem medir esforços para que o Café das Mães se tornasse esse evento tão importante para nós”, finaliza.

Confira abaixo como foi a décima edição do Café das Mães, evento realizado no dia 12 de maio em espaço cedido pela benfeitora Sueli Kentop, no bairro Água Verde:

Desde o ano passado, o Café das Mães é realizado em espaço cedido pela benfeitora Sueli Kentop, no bairro Água Verde

Presidente da APO, Luiza Helena Ferreira Silveira, entrega lembranças aos participantes do XX Café das Mães

A 10ª edição do Café das Mães contou com a presença de aproximadamente 50 pessoas

 

Durante o evento, a Associação Paranaense dos Ostomizados presenteou os participantes com lembranças

 

10 dicas de resiliência para ostomizados

1) Dê a si mesmo um tempo para a adaptação. Toda mudança de estilo de vida exige tempo para se reorganizar.

2) Mantenha uma atitude de esperança realista. As mudanças são grandes, mas com o tempo a pessoa ostomizada vai encontrando estratégias cada vez melhores para lidar com a situação.

3) Ajude a família e amigos próximos a conhecerem mais sobre a realidade da pessoa ostomizada, de forma que eles também possam ajudá-lo quando necessário.

4) Aceite ajuda sem perder autonomia e privacidade. Você pode aceitar a ajuda e suporte emocional da família, ficando atento para continuar fazendo tudo o que você puder fazer sozinho, de modo a não se sentir dependente dos outros.

5) Utilize a espiritualidade a seu favor. A espiritualidade ou religiosidade também ajudam a enfrentar as mudanças de vida.

6) Busque informação e auxílio técnico dos profissionais que podem oferecer suporte à condição de ostomizado (enfermeiros, médicos, psicólogos).

7) Busque atividades prazerosas. Talvez algumas atividades que você gostava de fazer antes não sejam possíveis com a ostomia, mas com certeza você poderá descobrir novos prazeres.

8) Mantenha-se socialmente ativo. Você vai descobrir que a ostomia não o impede de sair, ter amigos, conhecer novas pessoas.

9) Cultive a afetividade na relação com as pessoas próximas.

10) Cultive a confiança em si mesmo e no que você é capaz de fazer. Encare a mudança como um desafio e você vai se surpreender com você mesmo!

Para saber mais sobre a resiliência do paciente ostomizados, clique AQUI!

 

A resiliência do paciente ostomizado

Se pegarmos uma vareta de vidro e tentarmos dobrá-la, ela quebrará e nunca retornará ao que era antes. Se fizermos o mesmo com uma tira de borracha, ela vergará, mudando sua forma, e voltará à forma original assim que a soltarmos. A esta propriedade dos materiais, de voltar à forma original após ter sofrido tensão, dá-se o nome de resiliência.

Da mesma forma que os materiais, as pessoas também podem se comportar de formas diferentes após situações de estresse: algumas vezes as adversidades são rapidamente superadas, outras vezes o sofrimento pode se arrastar por muito tempo. A capacidade de a pessoa se reestruturar após o estresse também pode ser chamada de resiliência.

Quando alguém passa por uma cirurgia de ostomia, de início já tem que enfrentar dois obstáculos: primeiro, o problema que levou à necessidade da ostomia, que mais comumente é um câncer; segundo, as mudanças de vida trazidas pela ostomia, como a utilização de uma bolsa coletora de fezes ou urina. A isso somam-se os medos e incertezas a respeito das mudanças no corpo, evolução da doença e implicações sociais. Ainda que algumas pessoas consigam ver a ostomia com otimismo, inicialmente as perdas e alterações no estilo de vida assumem um papel muito grande na esfera emocional, podendo trazer sentimentos de pouca utilidade, de dependência e de isolamento social.

A decisão de a quem contar sobre a ostomia, quando, como, onde, também pode ser mais um fator de estresse, pelo receio da rejeição social.

O primeiro passo para poder contar aos outros é a própria pessoa ostomizada aceitar-se em sua nova condição. Quando a própria pessoa olha para a ostomia como algo anormal, indesejável e ocultável fica muito mais difícil sua readaptação social. E muitas vezes, o preconceito da própria pessoa ostomizada é maior que o dos demais.

Ser resiliente não significa não ser afetado pelos estressores. No caso da pessoa ostomizada, é esperado que a fase inicial não seja fácil. Neste caso, ser resiliente consiste em adaptar-se às mudanças, encontrando novas estratégias para continuar se sentindo uma pessoa inteira, na sociedade, na família e consigo mesmo, na sua identidade pessoal. A resiliência não é algo que nasce e morre com a pessoa. Ela envolve tanto fatores pessoais como ambientais, ou seja, ela pode ser desenvolvida. Algumas vezes é justamente quando ocorre um evento negativo que se encontra a oportunidade para reorganizar a vida e renovar a vontade de seguir em frente.

Angela de Loyola Runnacles
Psicóloga clínica no Crescer com Afeto, Mestre em Psicologia pela UFPR.

Conheça 10 dicas de resiliência para ostomizados!