Diretoria da APO e integrantes da Secretaria Municipal de Saúde de Curitiba (SMS)
No dia 10 de abril, representantes da diretoria da Associação Paranaense dos Ostomizados se reuniram com a secretária de saúde de Curitiba, Tatiane Filipak. A presidente da APO, Katia Oliveira, explicou os problemas enfrentados pelos pacientes ostomizados de Curitiba nas unidades básicas de saúde, em especial quanto à entrega de equipamentos de estomia incompatíveis com as necessidades dos pacientes.
“A secretária foi atenciosa e solícita com nossas demandas. Levamos todas as informações, relatos e comprovações das dificuldades que os pacientes estão enfrentando. Agora vamos aguardar e avaliar quais serão as medidas tomadas para corrigir os vários problemas que chegam até nós diariamente pelos ostomizados de Curitiba”, diz Katia.
A vida com um estoma é uma realidade para inúmeras pessoas em todo o mundo. Embora as estomias salvem vidas e possam melhorar significativamente a saúde física, também trazem desafios emocionais e psicológicos que exigem adaptação e resiliência.
A adaptação psicológica à vida com um estoma é um processo complexo e individual. Para muitos, o diagnóstico que leva à cirurgia de estomia é um momento de grande impacto emocional. A ideia de viver com uma bolsa coletora pode gerar sentimentos de medo, ansiedade, vergonha e até mesmo luto pela perda da função corporal natural. Essas emoções são completamente normais e fazem parte do processo de aceitação. Por isso é essencial que os pacientes recebam suporte adequado, tanto da equipe de saúde quanto de familiares e amigos.
Um dos grandes desafios do estomizado é lidar com a mudança na autoimagem. O corpo passa por uma transformação significativa, e muitos pacientes podem se sentir inseguros ou desconfortáveis com sua aparência. A presença da bolsa coletora pode afetar a autoestima, especialmente em situações sociais ou íntimas. É comum que as pessoas se sintam preocupadas com vazamentos, odores ou barulhos, o que pode levar ao isolamento social. Nesse contexto, o apoio psicológico é fundamental para ajudar o paciente a reconstruir sua autoimagem e aceitar seu corpo de uma forma positiva.
A informação é uma ferramenta fundamental nesse processo. Conhecer o funcionamento da estomia, aprender a cuidar da bolsa coletora e entender que é possível levar uma vida ativa e plena são passos importantes para a adaptação.
Outro aspecto de grande importância é a comunicação aberta com familiares e parceiros. Uma estomia pode afetar não só o paciente, mas também as pessoas do seu convívio. É importante que essas pessoas próximas estejam dispostas a ouvir, compreender e oferecer suporte emocional.
A adaptação psicológica também envolve a ressignificação da vida. Muitos pacientes descobrem que, apesar dos desafios, a presença da estomia não os impede de realizar seus sonhos e objetivos. Com os avanços tecnológicos, as bolsas coletoras são cada vez mais discretas e eficientes. Isso permite que as pessoas tenham uma vida social ativa. O segredo está em focar nas possibilidades, e não nas limitações.
A adaptação psicológica não tem um prazo determinado. Pode levar meses ou até anos para que o paciente se sinta completamente confortável com a nova realidade. Durante esse período, é essencial buscar ajuda profissional psicológica.
Cada jornada é única. O que funciona para um pode não funcionar para outro, e não há uma “maneira certa” de viver com um estoma. O importante é respeitar o próprio ritmo e buscar apoio quando necessário.
A adaptação psicológica à vida com uma estomia é um processo de autoconhecimento e resiliência. Envolve aprender a conviver com as mudanças, encontrar novas formas de se relacionar com o corpo e redescobrir a alegria de viver. Com o suporte adequado é possível não apenas sobreviver, mas ir além dos limites, mostrando que a força humana é capaz de superar até os desafios mais difíceis.
Por: Melina Hirayama
Enfermeira Estomaterapeuta Assessora Técnico/ Comercial Life Santé
Estudos mostram que o intestino tem um papel importante na produção de substâncias que impactam o bem-estar (Freepik)
Por: Aline Fernanda dos Santos | Nutricionista e ex-vice-presidente APO
A depressão é um problema de saúde pública global, e, após a pandemia de Covid-19, os números dessa condição aumentaram significativamente. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), mais de 11 milhões de brasileiros são afetados pela doença.
A depressão é uma condição multifatorial, ou seja, pode ser causada por diferentes fatores. Nos últimos anos, um deles tem chamado a atenção dos pesquisadores: a relação entre o intestino e o cérebro, conhecida como eixo intestino-cérebro.
Um estudo intitulado Brain-gut-microbiota axis in depression: A historical overview and future directions (2022) trouxe uma revisão detalhada sobre o tema. Segundo os autores, há evidências de que a microbiota intestinal se comunica com o sistema nervoso central (SNC) por meio de diferentes vias, influenciando diretamente a saúde mental, incluindo a depressão (Foster e McVey Neufeld, 2013; Morais et al., 2021; Simpson et al., 2021).
Como o intestino se comunica com o cérebro?
O sistema nervoso central e o sistema nervoso entérico (SNE) estão em constante troca de informações. O cérebro envia sinais para o intestino que regulam o apetite, o metabolismo e a digestão. Por outro lado, um intestino desequilibrado pode enviar ao cérebro sinais inflamatórios e prejudicar a absorção de medicamentos psiquiátricos, essenciais para o tratamento da depressão.
Pesquisas em animais mostraram que ratos com maior presença de ácidos graxos de cadeia curta e bactérias intestinais benéficas lidavam melhor com o estresse. Já estudos em humanos diagnosticados com depressão identificaram diferenças na composição da microbiota intestinal entre pessoas com e sem a doença.
A reposição de probióticos – conhecidas como “bactérias boas” – pode auxiliar no tratamento da depressão, desde que seja feita no momento adequado e com orientação médica ou nutricional.
O papel dos ácidos graxos de cadeia curta
Os ácidos graxos de cadeia curta (AGCC), produzidos pelas bactérias intestinais, desempenham um papel fundamental na saúde mental. Eles contribuem para a produção de serotonina – o neurotransmissor do bem-estar – e ajudam a fortalecer a barreira hematoencefálica, protegendo o cérebro contra inflamações e outras doenças.
Como cuidar do intestino e melhorar a saúde mental?
Para fortalecer a comunicação entre o intestino e o cérebro, algumas mudanças na rotina podem ajudar:
✔️ Manter uma alimentação equilibrada, rica em fibras e alimentos naturais; ✔️ Reduzir o consumo de alimentos ultraprocessados, como biscoitos, bolos industrializados, cereais matinais e caldas açucaradas; ✔️ Evitar o excesso de gordura saturada na dieta; ✔️ Utilizar medicações conforme orientação médica; ✔️ Praticar atividade física regularmente, o que também contribui para a saúde intestinal.
Por fim, se você tem sentido dificuldades para lidar com suas emoções e pensamentos, procure apoio profissional. Médicos, enfermeiros e psicólogos podem ajudar. Se necessário, busque atendimento em uma Unidade Básica de Saúde (UBS) ou Unidade de Pronto Atendimento (UPA). Você não está sozinho, e há caminhos para melhorar sua saúde mental!
A nova diretoria da APO, que iniciou o mandato em 1º de janeiro, será liderada novamente por Katia Oliveira. Reeleita, a presidente que comandou a associação entre 2023 e 2024 permanecerá à frente da entidade por mais dois anos.
Em seu primeiro mandato, Katia priorizou a modernização da APO, com foco em maior presença digital. Agora, ela pretende focar esforços em ampliar o diálogo com a Prefeitura de Curitiba, para que os ostomizados atendidos possam usufruir de todos os seus direitos, em especial a entrega adequada das bolsas de ostomia.
Para isso, a presidente contará com uma equipe comprometida com o crescimento da associação e com a garantia dos direitos dos ostomizados. Quem somará esforços na vice-presidência da APO é Lucas Borges de Oliveira, enfermeiro dermatoterapeuta e mestre em Gestão do Cuidado em Enfermagem.
Confira a seguir entrevistas com Katia e Lucas.
Jornal APO: Quais conquistas do mandato anterior a senhora destaca como as mais importantes?
Katia Oliveira: Acredito que foi o aumento da nossa visibilidade e alguns passos na modernização da associação. Isso aconteceu, por exemplo, em relação à nossa presença digital, em especial nas redes sociais, com muito conteúdo educativo.
Também passamos a ter um WhatsApp exclusivo da associação para melhorar a comunicação com os pacientes, e também uma chave Pix para receber doações. Essas são conquistas importantes dos dois últimos anos.
Jornal APO: Que lições aprendidas no último mandato você pretende aplicar na nova gestão?
Katia Oliveira: O que ficou muito forte é que temos que lutar mais pelos nossos direitos. Por mais que nunca tenha sido tão falado sobre estomias, ainda há um longo caminho pela frente. E o desconhecimento prejudica diretamente o acesso a direitos.
Jornal APO: Quais são principais prioridades para este novo período à frente da associação?
Katia Oliveira: Nossa prioridade número um é fazer com que a Prefeitura de Curitiba cumpra a lei e não deixe faltar bolsas, não entregue nada a menos e comece a respeitar mais os ostomizados.
Em paralelo, modernizar mais a associação. Uma das medidas em vista é fazer prontuário dos pacientes – um projeto do mandato antigo que não conseguimos concretizar. Essas são as prioridades ao menos para esse primeiro ano, mas temos outras demandas para 2026.
Jornal APO: Há algum projeto específico que a senhora considera prioritário para melhorar a qualidade de vida dos ostomizados de Curitiba?
Katia Oliveira: Estamos com alguns projetos de grande impacto que acredito que darão mais visibilidade para os ostomizados, e com isso acho que teremos ainda mais voz para cobrar da Prefeitura. 00É muito difícil para quem é ostomizado cobrar os próprios direitos. Já escutei de alguns pacientes que têm medo de cobrar, medo de que parem de entregar. Então realmente o projeto prioritário é o alinhamento com a Prefeitura para resolver esses impasses.
O mais desafiador me parece ser conseguir abertura na Secretaria Municipal de Saúde. Isso atrapalha muito o atendimento. Como associação já lidamos com muitos desafios quanto à distribuição de bolsas, mas me parece que foi ficando pior.
Jornal APO: A associação tem planos para ampliar parcerias com empresas, órgãos públicos ou outras entidades?
Katia Oliveira: Temos planos de ampliar nossa parceria com a Liga Acadêmica de Enfermagem em Estomaterapia (Laenfe-UFPR), o que ajuda a gerar mais canais educativos sobre estomias, e com as empresas fabricantes de produtos para estomias. São parcerias de longa data e muito positivas.
Pretendemos ampliar ainda mais esse leque de parceiros, porque isso ajuda a fomentar o conhecimento sobre a vida com estomia. Quanto mais pessoas souberem que existimos, mais visibilidade teremos e, naturalmente, mais facilmente poderemos cobrar nossos.
Vice-presidente pretende ampliar parcerias da APO com instituições
Jornal APO: O que o motivou a aceitar o desafio de se candidatar a vice-presidente da associação?
Lucas Borges: O que motivou aceitar a vice-presidência é saber que posso melhorar a educação em saúde em pessoas que desconhecem o que é ser estomizado.
Jornal APO: Quais são suas expectativas em relação ao mandato?
Lucas Borges: Espero que consigamos levar a APO para hospitais e espaços públicos de saúde para conhecerem a função e importância da associação na sociedade.
Jornal APO: De que forma sua experiência profissional pode contribuir para o trabalho da associação?
Lucas Borges: Sou enfermeiro há 12 anos e há sete trabalho com pessoas com estomias. Trabalho no Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná (UFPR), que promove ações de educação em saúde para pessoas recém-estomizadas. Quero trabalhar com educação permanente e cuidados com estomias para a população.
Jornal APO: O que você acredita que pode ser feito para melhorar o suporte aos ostomizados e Curitiba?
Lucas Borges: Favorecer o conhecimento das instituições sobre o funcionamento da APO, promover ampliação de atendimentos para pessoas com estomias e trazer a UFPR como campo de estágio para profissionais de saúde conhecerem a APO.