No dia 16 maio, o ator Luciano Szafir fez a cirurgia de reversão da colostomia após ficar 10 meses utilizando a bolsa coletora. O ator, submetido à cirurgia de colostomia em junho de 2021, trouxe luz à causa dos ostomizados, em especial após desfilar na São Paulo Fashion Week, no ano passado, exibindo o equipamento coletor. A divulgação de sua cirurgia de reversão pela imprensa, entretanto, trouxe dúvidas a respeito do assunto.
Para trazer mais informações sobre o tema, o Jornal APO conversou com a cirurgiā oncológica Fernanda Kinceski Pina, que atua com cirurgia colorretal.
Jornal APO: Quais tipos de ostomia são possíveis de serem revertidas?
Dra. Fernanda Pina: Temos as ostomias de eliminação (ileostomia e colostomia para fezes, e urostomia para urina); as de alimentação, como a gastrostomia e jejunostomia, e as que auxiliam na respiração – a traqueostomia. Todas elas podem ser provisórias ou definitivas, e essa condição é individualizada de acordo com a condição clínica e a doença de cada paciente.
Tratando das ostomias de eliminação intestinal, como as colostomias e ileostomias, quando realizadas em caráter provisório elas têm o potencial de serem revertidas. As urostomias também dependem da condição base do paciente que levou à necessidade da confecção dessa ostomia, além da quantidade e funcionalidade de bexiga remanescente. O médico responsável pelo paciente é o mais indicado para determinar se a reversão é possível, quando deve ser feita e quais exames deverão ser realizados antes do procedimento.
Jornal APO: Em quais casos pode-se reverter e em quais casos não é possível ou recomendável fazer a reversão?
Dra. Fernanda Pina: Nos casos em que a colostomia ou ileostomia foi programada para ser provisória é possível o planejamento da reversão. Diversos fatores devem ser considerados antes da reversão, como o motivo pelo qual a ostomia foi necessária, o desejo do paciente quanto à reversão, a adaptação do paciente à ostomia e status do trânsito intestinal. Mas enquanto a via natural de evacuação não pode ser usada, a ostomia deve ser mantida.
Quanto às urostomias, nos casos em que a bexiga foi parcialmente removida ou em que o sistema urinário pode ter sua função normal reestabelecida há a possibilidade de se avaliar a reversão.
Nos casos em que a doença ou a sequela decorrente do tratamento tornam a via natural de evacuação ou de diurese danificada ou ineficiente de forma definitiva, há a necessidade do uso permanente da ostomia, e nesses casos a reversão não é possível.
Jornal APO: Como é a cirurgia de reversão?
Dra. Fernanda Pina: Para que a reversão ocorra, o paciente precisa ser submetido a uma nova cirurgia que pode ser por via convencional ou aberta (com necessidade de corte), ou por via minimamente invasiva, como a videolaparoscopia, em que são realizados pequenos orifícios no abdómen.
Jornal APO: Quais são os principais riscos da cirurgia ou no pós-operatório?
Dra. Fernanda Pina: O principal risco das cirurgias de reversão de ostomias intestinais é a infecção intra-abdominal por deiscências intestinais (quando ocorre uma infecção dentro da barriga pelo vazamento da costura intestinal realizada para reestabelecer o trânsito intestinal). Além disso, complicações como sangramentos, pneumonia, trombose e complicações anestésicas podem acontecer como em qualquer outro procedimento cirúrgico. No pós-operatório, as principais complicações são infecção na região da pele em que estava a ostomia e incontinência fecal que pode ser transitória ou permanente.
Já as principais complicações da reversão da urostomia são a deiscência das suturas (quando os pontos da reconexão da via urinária se soltam e a urina vaza para a cavidade abdominal), incontinência urinaria e a infecção da pele onde estava a ostomia.
Jornal APO: Essa cirurgia é coberta pelo SUS?
Dra. Fernanda Pina: Sim. As cirurgias de reversão de todas as ostomias são cobertas pelo SUS. Mesmo que o paciente tenha feito sua cirurgia inicial pelo convênio ou particular, se houver necessidade de continuidade do tratamento pelo SUS, o paciente tem esse direito.